COMO FUNCIONA A VACINA DE SPRAY NASAL CONTRA COVID EM DESENVOLVIMENTO NO BRASIL, EM FASE DE APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS PARA A ANVISA
Fotomontagem: USP
Vacina de spray nasal está em fase de apresentação documentos para Anvisa
Publicado em 28/12/2022 16h22
Pesquisadores da USP estão comprovando produção de lotes-piloto do imunizante em boas práticas de laboratório; item é um dos pré-requisitos para autorização do início dos testes clínicos
A analogia com uma porta ou uma muralha é o que melhor define a proposta de ação da vacina de spray nasal para combater a covid-19. A ideia do imunizante é produzir anticorpos nas mucosas nasais, o que permitiria interromper a cadeia transmissão do vírus e impedir a infecção do organismo. A vacina pretende ser utilizada para barrar a entrada do vírus SARS-CoV-2 no organismo e bloquear a transmissibilidade entre as pessoas, por isso é tratada como um reforço para evitar infecção nasal, além da proteção contra a doença.
O projeto totalmente desenvolvido no Brasil se iniciou como uma contratação direta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), implementada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O imunizante integra a ação do MCTI na área de vacinas, estabelecida por meio da RedeVírus MCTI, que investiu em dez projetos nacionais com 15 diferentes estratégias com objetivo adicional de desenvolver e incorporar novas tecnologias. O acompanhamento do projeto é feito pela Coordenação Geral de Ciências da Saúde, Biotecnológicas e Agrárias (CGSB) da SEPEF/MCTI.
A pesquisa é coordenada pelo professor Jorge Kalil Filho, do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o pesquisador, o dossiê já foi apresentado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para início de ensaios clínicos. Atualmente, os pesquisadores estão na fase de apresentar documentos que comprovem que a produção dos lotes-piloto foi realizada sob boas práticas de fabricação. Este é um dos pré-requisitos avaliados pela agência reguladora para autorizar o início dos testes clínicos. Os pesquisadores também estão em tratativas com a indústria farmacêutica nacional para futura produção.
A vacina age nos anticorpos, chamados de imunoglobulinas A (IGA), presentes nas mucosas da orofaringe (nariz, boca e garganta), ou seja, o spray induz o organismo a produzir sua defesa nos primeiros estágios das vias respiratórias, neutralizando a ação da carga viral. Ao induzir a produção de resposta imune local, o spray impede a proliferação do vírus no nariz e, por consequência, a transmissão para outras pessoas, bem como a infecção dos pulmões.
O grupo de trabalho envolve cerca de 30 pesquisadores que estudaram a resposta imune para definir o antígeno presente na composição. Eles elaboraram mais de 50 formulações até atingir uma que permitisse alcançar as mucosas nasais de modo a apresentar a melhor eficácia.
O antígeno presente na vacina, que induz a resposta humoral e celular, é sintético e novo, e foi definido a partir de parte da proteína spike do vírus SARS-CoV-2 após estudo observacional que acompanhou cerca de 200 infectados pela doença. Os pesquisadores detectaram qual era o melhor alvo da resposta de anticorpo, o RBD (Receptor Binding Domain), Eles também estudaram o genoma do vírus e identificaram quais ‘pedaços’ estimulavam a melhor resposta celular, tanto para as células ‘auxiliadoras’ (que ajudam na composição da resposta), quanto para as “citotóxicas” (que destroem as células infectadas).
“A nossa proteína foi testada exaustivamente em modelos animais. Paralelamente, após o teste de mais de 50 formulações, definimos a melhor nanotecnologia que carregasse nosso antígeno pelos cílios, atravessasse a barreira de muco e se fixasse na mucosa nasal induzindo forte resposta imune celular e mucosa, local e sistêmica. Esta formulação foi testada no como indutora de defesa em camundongos ACE-2 e mostrou-se protetiva, confirmando a tese de conceito”, explica Kalil.
De acordo com o coordenador da pesquisa, a ferramenta é importante para conter a transmissibilidade do vírus SARS-CoV-2, pois mesmo pessoas vacinadas podem se reinfectar e transmitir. Isso ocorre porque a as vacinas intramusculares são muito sistêmicas e pouco locais. Isso quer dizer que protegem o organismo como um todo, mas não conseguem produzir resposta imunológica nas mucosas da face. A vacina também concebida de modo a permitir ser adaptada de acordo com as variantes do vírus.
Além disso, a aplicação por meio de spray nasal pode oferecer menos resistência por algumas parcelas da população, sobretudo crianças.
O coordenador da pesquisa já pesquisava outras vacinas, como a para combater o Streptococcus, que causa a doença reumática cardíaca que aguarda a realização de testes clínicos. Segundo ele, a plataforma tecnológica intranasal poderá ser utilizada para elaborar imunizantes para outras doenças, como a gripe e em especial o vírus sincicial respiratório (VSR), que é uma das principais causas de infecções das vias respiratórias e pulmões em recém-nascidos e crianças pequenas, e pode causar bronquiolite.
Categoria
Ciência e Tecnologia
Fonte: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2022/12/vacina-de-spray-nasal-esta-em-fase-de-apresentacao-documentos-para-anvisa

Como funciona a vacina de spray nasal contra Covid em desenvolvimento no Brasil
Cientistas do Incor buscam imunizante com o objetivo de prevenir a infecção e reduzir de forma mais eficiente a transmissão da doença
Quando o coronavírus invade as células humanas, o organismo gera algumas respostas. Entre elas, a produção de anticorpos neutralizantes específicos contra o vírus e a resposta celular, que é a ativação de células de defesa, como glóbulos brancos e outros linfócitos, que reconhecem e destroem as células infectadas, reduzindo a replicação viral.
Para defender o organismo, os anticorpos atuam sobre estruturas específicas do agente invasor. A criação de uma vacina começa pela busca de alvos nessa estrutura do vírus que poderão induzir respostas mais eficientes pelo sistema imunológico.
Cientistas do Incor, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), desenvolvem a primeira vacina nasal contra a Covid-19 inteiramente brasileira. O projeto, que teve início em março de 2020, conta com a participação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Criação de uma vacina
O ponto de partida da pesquisa foi a busca por um antígeno para a vacina, ou seja, uma proteína ou molécula capaz de induzir a produção de anticorpos específicos contra o coronavírus. Para encontrá-lo, os pesquisadores investigaram a resposta imune de 210 pacientes recuperados da Covid-19. O estudo foi realizado a partir da análise de amostras sanguíneas.
Segundo o coordenador da pesquisa, Jorge Kalil Filho, diretor do Laboratório de Imunologia do Incor, a composição do antígeno foi testada com várias formulações para a criação do spray nasal.
Além de definir antígeno, os cientistas avaliam como operacionalizar a produção em larga escala do imunizante. Segundo Kalil, a partir disso, será possível avançar com os testes de segurança da vacina.
Neste momento, os experimentos ainda estão sendo feitos animais. Na etapa, chamada pré-clínica, foi observada a capacidade do imunizante de gerar resposta de anticorpos e de outras células de defesa, conhecida tecnicamente como imunogenicidade.
O próximo passo consiste em testes com a participação de voluntários, os ensaios clínicos, que permitem avaliar a imunogenicidade, dosagem e perfil de segurança em humanos.
Segundo o pesquisador, o avanço no projeto neste momento esbarra em dificuldades operacionais.
“A vacina está definida, o que se precisa nesse momento é a preparação industrial, em boas práticas de fabricação, para que ela possa ser utilizada em seres humanos. A parte científica está resolvida, agora é uma etapa de desenvolvimento tecnológico em que somos bastante deficientes no Brasil e, talvez, tenhamos que recorrer a parceiros lá fora”, explica Kalil.
Kalil explica que a vacina apresenta vantagens, como a produção simplificada e totalmente nacional, e a adaptabilidade às diferentes variantes em circulação.
“A vacina vai ser descoberta, desenvolvida e produzida no Brasil. É muito importante esse financiamento da pesquisa para que os estudos possam ser desenvolvidos no país”, ressaltou.
Kalil afirma que ainda não há previsão da ampla utilização do imunizante na população.
“Temos que fazer essa produção piloto e, depois, os testes clínicos de fases 1, 2 e 3. Da forma como pensamos em fazer os testes clínicos, é possível que consigamos terminar em seis meses. Mas precisamos da formulação em boas práticas de fabricação”, explica.
Como funcionam as vacinas nasais
O sistema imunológico das mucosas, tecidos que revestem as cavidades do organismo, é a primeira linha de defesa do corpo humano contra patógenos ou microrganismos nocivos, como vírus e bactérias.
No caso do SARS-CoV-2, um vírus de transmissão respiratória, a nasofaringe é o principal ponto de entrada no organismo. Por isso, o reforço da imunidade na cavidade nasal é considerado uma das estratégias para o desenvolvimento das vacinas.
Os imunizantes mais comuns, de injeção intramuscular, podem ser desenvolvidos a partir de diferentes tecnologias, como vírus inativado ou atenuado, proteínas do vírus ou material genético do coronavírus.
O objetivo é o mesmo: induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos neutralizantes contra o vírus que ajudam a prevenir a doença, especialmente nas formas graves, e a reduzir as chances de internação e de morte.
No caso dos imunizantes intranasais, a aposta dos cientistas é que a geração de uma resposta imune eficaz nas mucosas poderá reduzir não somente os casos graves, mas também prevenir a infecção e reduzir de forma mais eficiente a transmissão da doença.
Segundo o pesquisador Jorge Kalil Filho, professor da Faculdade de Medicina da USP, uma das principais vantagens desse tipo de vacina é a indução de uma imunidade local e sistêmica, ou seja, em todo o organismo.
“Uma vacina nasal vai fazer com que haja uma resposta muito forte na mucosa do nariz e impedir que haja a infecção. Além disso, ela também induz uma resposta para todo o corpo, ou seja, anticorpos que circulam em todo o organismo”, explica.
Aposta na imunidade por anticorpos presentes nas mucosas
Para o desenvolvimento das vacinas intranasais, os especialistas utilizam como parâmetro a indução de um tipo de anticorpo chamado IgA, encontrado em grande quantidade na região das mucosas do nariz.
Os anticorpos IgA fazem parte da primeira linha de defesa do organismo, sendo responsáveis por diferentes funções, incluindo neutralizar as substâncias produzidas pelos diversos tipos de microrganismos invasores.
O diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, Luiz Reis, explica que o objetivo central das vacinas é preparar o organismo para respostas mais rápidas e precisas diante da exposição a um agente infeccioso, de modo a controlar a doença. Segundo ele, os imunizantes nasais podem acelerar esse processo ao simular com mais precisão a forma como acontece a infecção pelo novo coronavírus.
Em um estudo publicado na revista Science, pesquisadores avaliaram as respostas imunológicas de 159 pacientes com Covid-19. A análise mostrou que, no estágio inicial da infecção, houve um predomínio dos anticorpos IgA.
Eles atingiram o pico três semanas após o início dos sintomas e mostraram uma maior capacidade de neutralização do vírus em relação aos anticorpos do tipo IgG, que atuam de forma conjunta com os anticorpos IgM na proteção imediata e a longo prazo contra a Covid-19 e diversas infecções.
Os resultados sugerem que a imunidade produzida pela mucosa, mediada pelos anticorpos IgA, pode reduzir a infectividade do vírus na saliva e secreções pulmonares, diminuindo a transmissão.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/como-funciona-a-vacina-de-spray-nasal-contra-covid-em-desenvolvimento-no-brasil/
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