Fitoterapia Baseada em Evidências.
Parte 1.
Acta Farm. Bonaerense 24 (2): 300-9
(2005) Recibido el 21 de septiembre de 2004 Aceptado el 20 de diciembre de 2004
Revisiones PALAVRAS-CHAVE: Fitoterapia baseada em evidências, Ginkgo, Hipérico,
Kava, Valeriana. KEY
WORDS: Evidence-based herbal medicine, Ginkgo, St John’s wort, Kava, Valerian. * Autor a quem a correspondência deverá ser enviada. Fitoterapia Baseada
em Evidências. Parte 1. Medicamentos Fitoterápicos Elaborados com Ginkgo,
Hipérico, Kava e Valeriana Rodrigo Fernandes ALEXANDRE, Fernanda Nath GARCIA
& Cláudia Maria Oliveira SIMÕES* Laboratório de Farmacognosia, Departamento
de Ciências Farmacêuticas, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de
Santa Catarina. CEP 88.040-900, Florianópolis, Santa Catarina-SC, BRASIL.
RESUMO. O uso da fitoterapia tem aumentado consideravelmente. Muitas vezes,
estudos não científicos e a experiência popular são valorizados em preferência
aos ensaios clínicos, que servem como suporte para as informações sobre
indicações de uso, eficácia e segurança dos medicamentos fitoterápicos. A
fitoterapia baseada em evidências permite uma avaliação crítica do seu emprego,
maximizando seus benefícios e minimizando seus riscos. Através dessa
ferramenta, verificou-se que as evidências disponíveis, até o momento, justificam
o uso do ginkgo no tratamento da claudicação intermitente, na doença de
Alzheimer e na falta de memória e demência associadas com a idade. Há fortes
evidências de eficácia do hipérico no tratamento da depressão leve a moderada.
A kava é mais eficaz do que o placebo no tratamento sintomático da ansiedade.
As evidências são fracas para a utilização da valeriana no tratamento dos
distúrbios do sono. SUMMARY.
“Evidence-based Herbal Medicine. Part 1. Phytopharmaceuticals elaborated with
ginkgo, St John’s Wort, Kava and Valerian”. Interest in the use of herbal
products has grown significantly in the Western World. Many times
non-scientific studies and traditional experiences of use are given more credit
than clinical assays. The former may be considered as a support to obtain
informations about uses, efficacy and safety of phytopharmaceuticals.
Evidence-based herbal medicine allows a critic evaluation of its use as a
therapeutic alternative, maximizing its benefits and minimizing its risks. For
the phytopharmaceuticals presented here, the evidence available up to this
moment show that the use of ginkgo is justified in the treatment of
intermittent claudication, Alzheimer’s disease, lack of memory and dementia
associated with the age. There is strong evidence on the efficacy of St John’s
Wort in mild to moderate depression, and that Kava is more efficient than
placebo in the symptomatic treatment of anxiety. There is not such a clear
evidence coming from the application of valerian in sleep ing disturbances.
PALAVRAS-CHAVE: Fitoterapia baseada
em evidências, Ginkgo, Hipérico, Kava, Valeriana. KEY WORDS: Evidence-based herbal
medicine, Ginkgo, St John’s wort, Kava, Valerian. * Autor a quem a correspondência deverá ser enviada.
INTRODUÇÃO A utilização de plantas
medicinais e medicamentos fitoterápicos para a recuperação da saúde é uma
prática generalizada, que foi sedimentando-se ao longo do tempo, sendo o
resultado do acúmulo secular de conhecimentos empíricos sobre a ação dos vegetais
por diversos grupos étnicos. O uso desses recursos é estimulado, muitas vezes,
de maneira pouco criteriosa. Os conhecimentos empíricos acumulados no passado
(tradição cultural) e os científicos desenvolvidos, ao longo do tempo, mostram
que as plantas medicinais e os medicamentos fitoterápicos podem, também, causar
efeitos adversos, toxicidade e apresentar contra-indicações
de uso. O princípio de que o
benefício advindo da utilização de um produto com finalidade medicamentosa deve
superar seu risco potencial deve ser aplicado também aos produtos da medicina
tradicional/popular 1. O desconhecimento pelos consumidores das informações
mínimas necessárias ao uso correto de plantas medicinais e de medicamentos
fitoterápicos, e as dificuldades encontradas pelos profissionais da saúde para
obtenção de informações de qualidade, tornam a fitoterapia um alvo fácil para a
automedicação sem responsabilidade. Por isso, é importante que a utilização
desses recursos terapêuticos seja também submetida à análise de risco/benefício
2. Com relação ao benefício esperado, não somente a eficácia clínica deve ser
avaliada, mas também a utilidade social do remédio em seu contexto cultural.
Com relação ao risco potencial, é de vital importância que haja um corpo de
evidências sobre o perfil de segurança dos medicamentos fitoterápicos para a
redução dos riscos à saúde do paciente. Por isso é importante a aplicação de
ferramentas que permitam uma avaliação crítica e racional dos ensaios clínicos
sobre eficácia e segurança desses medicamentos. A medicina baseada em
evidências é uma destas ferramentas que permite a busca explícita das melhores
evidências científicas disponíveis para nortear as decisões sobre os cuidados
de saúde 3. Com isso desenvolve estratégias, tais como revisões sistemáticas e
meta-análises de estudos clínicos, para a avaliação crítica das evidências
disponíveis e para minimizar os erros de prevenção, diagnóstico, prognóstico e
tratamento de doenças 4. A grande vantagem das revisões sistemáticas e das
meta-análises é a minimização dos erros sistemáticos e dos vieses. Com isso
geram-se as melhores evidências que fornecerão subsídios para a escolha de
determinada terapia 5. Estudos não científicos, o folclore e as práticas
populares são, muitas vezes, utilizadas para se obter informações sobre indicações
de uso, eficácia e segurança de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos
6. Esta forma de aquisição do conhecimento não deve ser desprezada, pois
através das descobertas empíricas e com base nos conhecimentos acumulados pela
medicina popular foram desenvolvidos alguns medicamentos amplamente utilizados
na prática clínica. No entanto, os ensaios clínicos controlados, randomizados e
duplos-cegos, conduzidos com medicamentos fitoterápicos trazem novos
conhecimentos e são fontes de informações atualizadas, fidedignas e com padrões
metodológicos que podem reduzir os riscos e as incertezas 1. Face ao aumento
crescente do uso da fitoterapia, da existência de poucas pesquisas de qualidade
nesta área em comparação com as intervenções da medicina convencional, e do
difícil acesso à literatura sobre este assunto, surge uma questão muito
importante e complexa: os medicamentos fitoterápicos são eficazes e seguros? É
óbvio que cada medicamento fitoterápico deve ser julgado individualmente e
generalizações devem ser evitadas 7. Para garantir a melhor resposta à esta
dúvida, os ensaios clínicos devem ser conduzidos de acordo com alguns
requisitos fundamentais: a) os medicamentos fitoterápicos devem ser elaborados
com extratos padronizados, ou seja, com constituintes químicos conhecidos tanto
do ponto de vista qualitativo como quantitativo; b) deve-se realizar um
diagnóstico preciso dos pacientes a serem incluídos no ensaio; c) a população
de estudo deve ser adequada para que os resultados possam ser extrapolados para
a população total; d) os processos de randomização e cegamento devem ser
adequados para minimizar os vieses e a superestimativa dos resultados.
Portanto, somente trabalhos com metodologias adequadas podem ser agregados para
formar um corpo de evidências clínicas e permitir a avaliação dos resultados,
através de revisões sistemáticas e meta-análises 5. Segundo Ernst 2, muitos
médicos adeptos da fitoterapia não se preocupam com as evidências disponíveis e
afirmam que o crescimento e a forte aceitação dos medicamentos fitoterápicos
pelos pacientes são provas suficientes de sua eficácia. Mas, nessa época de
expansão da medicina baseada em evidências, não se deve ter dúvidas sobre a
eficácia e a segurança de intervenções terapêuticas, incluindo aquelas com
medicamentos fitoterápicos e, portanto, as provas da sua eficácia e segurança
devem ser obtidas a partir de ensaios clínicos devidamente conduzidos 2,7. No
entanto, as evidências geradas por estes ensaios clínicos podem ser
contraditórias, tornando-se necessária a realização de revisões sistemáticas
e/ou meta-análises. Portanto, a medicina baseada em evidências torna-se um
recurso útil e adequado, que quando aplicado à fitoterapia, estabelece as
melhores evidências clínicas disponíveis para os medicamentos fitoterápicos
elaborados com uma determinada planta medicinal, minimizando os possíveis
riscos inerentes à sua utilização. Assim, os princípios da medicina baseada em
evidências são adequados para esta avaliação e, quando aplicados corretamente,
podem fornecer informações concretas sobre o grau de evidências da eficácia de
um determinado medicamento fitoterápico, colaborando assim para a tomada de
decisão do médico no momento da sua prescrição, e do farmacêutico ou outro
profissional da área da saúde, no momento de fornecer as informações
necessárias com o mínimo de incertezas possíveis. O objetivo deste trabalho foi
obter as melhores evidências encontradas na literatura sobre a eficácia clínica
e a segurança dos medicamentos fitoterápicos elaborados com Ginkgo (Ginkgo
biloba L.), Hipérico (Hypericum perforatum L.), Kava (Piper methysticum G.
Forst.) e Valeriana (Valeriana officinalis L.). MÉTODOS De acordo com um
levantamento realizado junto às distribuidoras de medicamentos fitoterápicos
para o Estado de Santa Catarina (Brasil) 8 e confirmado por dados recentes do
mercado mundial desses produtos 9, os medicamentos fitoterápicos mais
comercializados são elaborados com ginkgo, hipérico, kava, valeriana,
alcachofra, castanha-da-índia, ginseng e maracujá. Nesta Parte 1 do trabalho
serão abordados os quatro primeiros e na Parte 2, os quatro últimos.
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica para a busca das melhores evidências
externas de eficácia e segurança para os medicamentos fitoterápicos com ginkgo,
hipérico, kava e valeriana. Para isso, foram utilizadas as bases de dados
MEDLINE (através do PubMed) e COCHRANE COLLABORATION, sem restrição de data e
idioma de publicação, e revisões sistemáticas e metaanálises dos ensaios
clínicos, randomizados, duplos-cegos e controlados, realizados com medicamentos
fitoterápicos elaborados com as plantas medicinais em questão. Além disso,
foram realizadas buscas manuais de ensaios clínicos nas listas de referências
de livros especializados e/ou dos artigos já localizados. Também foram
consultados ensaios clínicos publicados após a publicação da última revisão
sistemática e/ou meta-análise. Realizou-se, também, um levantamento
bibliográfico para compilar as melhores informações sobre indicações
terapêuticas, posologia, potenciais interações medicamentosas, possíveis
efeitos adversos e contra-indicações. Estas informações foram obtidas de livros
especializados, artigos de revisão, artigos originais de estudos farmacológicos
e toxicológicos préclínicos, monografias da Comissão E 10, da ESCOP 11 e da
Organização Mundial da Saúde 12. RESULTADOS Os resultados da pesquisa
bibliográfica realizada para a avaliação clínica da eficácia e segurança dos
medicamentos fitoterápicos elaborados com Ginkgo (Ginkgo biloba L.), Hipérico
(Hypericum perforatum L.), Kava (Piper methysticum L.) e valeriana (Valeriana
officinalis L.) estão apresentados nas Tabelas 1-8. DISCUSSÃO Ginkgo Os
extratos secos padronizados de Ginkgo biloba, principalmente o EGb 761 e o LI
1370, são utilizados para a elaboração de medicamentos fitoterápicos. De acordo
com a Tabela 1, verifica-se que já foram conduzidas revisões sistemáticas e
meta-análises dos ensaios clínicos para avaliar a eficácia e a segurança desses
medicamentos nas suas principais indicações terapêuticas 13-18,21,22. Os
resultados de uma revisão sistemática de oito ensaios clínicos demonstraram que
o tratamento com tais extratos reduziu, de forma significativa, os sintomas
característicos da insuficiência cerebral, quando comparado ao tratamento com
placebo. Há possibilidade da ocorrência de vieses de publicação, pela possível
existência de estudos que não foram publicados 13. A comparação dos resultados
de cinco ensaios realizados com o mesilato de dihidroergotoxina (4,5 mg/dia) e
o extrato padronizado de ginkgo EGb 761 (120 mg/dia), durante seis meses,
mostrou que ambos têm perfis semelhantes de eficácia no tratamento sintomático
da insuficiência cerebral 38. Uma meta-análise de 11 ensaios clínicos mostrou
que do extrato padronizado de ginkgo LI 1370 reduziu, de forma significativa,
os sintomas da insuficiência cerebral, mas como esta é uma doença complexa, com
muitos sinais clínicos, recomenda-se o desenvolvimento de novos ensaios
clínicos, para a confirmação da sua eficácia terapêutica 14. O ginkgo é também
amplamente estudado como alternativa terapêutica nas demências do tipo
Alzheimer e multi-infarto. Os resultados de uma meta-análise de quatro ensaios
clínicos mostraram que o extrato padronizado de ginkgo EGb 761 produziu um
efeito positivo significativo sobre a função cognitiva em pacientes com doença
de Alzheimer 15. Esses resultados foram comparáveis aos do donepezil, um
inibidor da colinesterase utilizado no tratamento desta doença 39. Mais
recentemente, uma revisão concluiu que o extrato padronizado de ginkgo EGb 761
e os inibidores da acetilcolinesterase de segunda geração (donepezil,
rivastigmina e metrifonato) são igualmente eficazes no tratamento da demência
leve a moderada 40. Um ensaio clínico, multicêntrico, randomizado, duplo-cego,
controlado por placebo, demonstrou que o extrato padronizado de ginkgo EGb 761
foi eficaz na melhora da performance cognitiva em pacientes com doença de
Alzheimer leve a moderada 41. Segundo a revisão de Schulz (2003) 42, devido as
limitadas opções terapêuticas para o tratamento da demência do tipo Alzheimer,
o tratamento com o extrato padronizado de ginkgo EGb 761 parece ser a
alternativa terapêutica de escolha em comparação com os inibidores da
acetilcolinesterase.
Indicação Fonte de Ensaios Conclusão
Referência terapêutica informação Insuficiência cerebral Revisão 8 Superior ao
placebo, mas 13 em idosos sistemática com possíveis vieses de publicação
Meta-análise 11 Superior ao placebo 14 Demência Meta-análise 4 Efeitos clínicos
significativos e superiores ao placebo 15 do tipo Alzheimer Demências do tipo
Revisão 9 Superior ao placebo na redução da deterioração 16 Alzheimer
sistemática cognitiva. Possíveis vieses de publicação e multi-infarto
Claudicação Meta-análise 8 Aumento significativo da distância percorrida sem
dor 17 intermitente Zumbido Revisão 5 Fraca evidência de eficácia e
superestimação 18 sistemática dos resultados Ensaio clínico 1 Resultados
negativos 19 Ensaio clínico 1 Resultados promissores com necessidade 20 de
condução de novos ensaios clínicos Meta-análise 6 Fraca evidência de eficácia
21 Melhora da memória Revisão 9 Falta de evidências clínicas e resultados 22 em
indivíduos sistemática inconsistentes saudáveis, com menos de 60 anos Tabela 1.
Resultados da pesquisa bibliográfica sobre as evidências de eficácia e
segurança do uso de medicamentos fitoterápicos à base de extratos padronizados
de ginkgo (Ginkgo biloba L.).
Contudo, uma revisão sistemática
encontrou resultados contraditórios em relação à eficácia de extratos
padronizados de ginkgo no tratamento sintomático da demência do tipo Alzheimer
e multi-infarto. Coletivamente, os resultados dos nove ensaios clínicos
incluídos foram promissores, mas devido à baixa qualidade metodológica de
alguns estudos individuais, justificase a condução de novos ensaios para gerar
um corpo de evidências que justifique o uso dos extratos padronizados de ginkgo
no retardo da deterioração clínica na demência 16. Pittler e Ernst (2000) 17
avaliaram a eficácia dos extratos padronizados de ginkgo no tratamento da claudicação
intermitente, indicando uma diferença significativa no aumento da distância
percorrida sem dor pelos pacientes tratados com tais extratos, em relação aos
tratados com placebo. Esses resultados foram comparados com aqueles obtidos nos
ensaios clínicos conduzidos com a pentoxifilina e o cilostazol (fármacos
aprovados pelo FDA para tratamento da claudicação intermitente). Um estudo
comparativo entre a pentoxifilina e o extrato EGb 761
mostrou resultados similares,
verificados através do aumento das distâncias total e máxima percorridas sem
dor pelos pacientes 43. Essas fortes evidências justificam a indicação de
medicamentos fitoterápicos à base deste extrato padronizado de ginkgo no
tratamento da claudicação intermitente 44. O zumbido é a percepção de sons na
ausência de um estímulo externo 45 e que acomete 6- 14% da população mundial
46. Muitas opções de tratamento são utilizadas, tais como antagonistas dos
canais de cálcio, anticonvulsivantes ou antidepressivos, além de técnicas
psicofisiológicas e psicoterapêuticas, mas nenhuma delas apresenta resultados
consistentes e/ou causam efeitos adversos 47. Uma revisão sistemática de cinco
ensaios clínicos mostraram resultados promissores, mas as evidências
disponíveis são fracas para permitir uma conclusão definitiva da eficácia do
extrato EGb 761 no tratamento do zumbido crônico, havendo necessidade da
condução de novos ensaios clínicos com metodologias mais rigorosas e
consistentes em termos de avaliação da eficácia terapêutica, com doses e formas
farmacêuticas padronizadas, com critérios explícitos de classificação dos
pacientes e com maior precisão diagnóstica 18. Mais recentemente foram
publicados outros dois ensaios clínicos, randomizados, duplos-cegos e
comparados com placebo, que também mostraram resultados promissores, mas
inconsistentes, em relação à eficácia dos extratos LI 1370 19 e EGb 761 20 no
tratamento do zumbido crônico. Recentemente, foi publicada uma meta-análise de
seis ensaios clínicos que, novamente, mostrou que os extratos padronizados de
ginkgo não podem ser considerados uma alternativa eficaz no tratamento de
pacientes com zumbido 21. Com relação ao uso do ginkgo para melhorar as funções
cognitivas de indivíduos adultos saudáveis, a revisão sistemática conduzida por
Canter e Ernst (2002) 22 mostrou que os resultados dos nove ensaios clínicos
disponíveis até o momento, são insuficientes e apontam para a falta de
evidências clínicas que justifiquem a utilização dos extratos padronizados de
ginkgo na melhora das funções cognitivas de indivíduos saudáveis, com menos de
60 anos. Em relação à segurança (Tabela 2), considera-se que os medicamentos
elaborados com extratos padronizados de ginkgo são seguros e com uma ampla
faixa terapêutica, mas devido à potencial ação antagonista do fator de ativação
plaquetária (FAP) e das possíveis reações hemorrágicas, esses medicamentos
devem ser utilizados com atenção em pacientes tratados com anticoagulantes ou
antiplaquetários 48-49. Alguns relatos de casos mostram o aparecimento de
efeitos adversos graves pela interação do ginkgo com ácido acetilsalicílico 50,
varfarina 51, paracetamol e ergotamina/cafeína 52, e trazodona 53 , e um caso
de morte pela administração concomitante de ginkgo e ibuprofeno 54. Hipérico As
meta-análises e as revisões sistemáticas dos ensaios clínicos 23-27 (Tabela 3)
mostram a eficácia e segurança dos extratos padronizados de hipérico,
principalmente o LI 160, para o tratamento sintomático da depressão leve a
moderada. A maioria dos ensaios clínicos indicou que o hipérico é mais eficaz
do que o placebo e, também, há evidências clínicas de que seja tão efetivo
quanto os antidepressivos tricíclicos clássicos usados no tratamento
sintomático dos distúrbios depressivos 24,27-29. No entanto, ainda não está
definido se os extratos padronizados de hipérico, principalmente o LI 160,
possuem o mesmo perfil de eficácia dos fármacos inibidores seletivos de
recaptação da serotonina, devido as inconsistências dos ensaios clínicos que
compararam estas duas formas de tratamento da depressão 30,32,33. A grande
vantagem dos medicamentos fitoterápicos à base do extrato padronizado de
hipérico é a sua maior segurança em relação ao placebo e, também, aos
antidepressivos de referência, tais como os antidepressivos tricíclicos e os
inibidores seletivos de recaptação da serotonina 25-27. Como monoterapia,
portanto, pode ser uma alternativa apropriada para o tratamento sintomático de
pacientes com depressão leve a moderada. Porém, para o tratamento da depressão
grave, as evidências clínicas disponíveis são insuficientes para justificar tal
uso 55. Em relação aos efeitos adversos existe a possibilidade de ocorrer
aumento da fotossensibilidade em pacientes pré-dispostos, devendo-se evitar a
co-administração de medicamentos fitoterápicos à base de hipérico e outros
medicamentos potencialmente fotossensibilizantes 56. O uso de medicamentos à
base de hipérico juntamente com outros medicamentos, pode implicar em inúmeras
interações clinicamente importantes, pois podem ocorrer alterações das
concentrações plasmáticas e dos efeitos terapêuticos dos mesmos. A indução da
isoforma 3A4 do sistema de enzimas do citocromo P450 é o principal mecanismo
envolvido nessas interações medicamentosas 57-59. Além disso, foi demonstrado
que a hiperforina é um potente ligante do receptor nuclear responsável pela
expressão do CYP3A4 60,61. Como a magnitude das interações medicamentosas nos
relatos clínicos é maior do que aquelas verificadas nos ensaios in vitro, há a
hipótese da alteração da expressão da glicoproteína-P 62-64, cuja expressão
aumentada caracteriza-se pela redução acentuada da biodisponibilidade de certos
substratos para essa proteína, tais como os inibidores da protease e os
imunossupressores 64-66. Portanto, via esses dois mecanismos, a administração
concomitante de extratos de hipérico pode reduzir a concentração plasmática de
alguns fármacos, tais como digoxina (cardiotônico) 67,68, sinvastatina
(inibidor da HMGCoA-redutase) 69, amitriptilina (antidepressivo tricíclico)
70,71, sertralina (antidepressivo inibidor da recaptação de serotonina) 72,73,
varfarina (anticoagulante oral) 74, indinavir (inibidor da protease do HIV) 75,
teofilina (broncodilatador) 76, ciclosporina 77-80 e tacrolimus 81
(imunossupressores), alprazolam (benzodiazepínico) 82 e contraceptivos orais
74,83-85 (Tabela 4). A possível interação medicamentosa entre o hpérico e esses
contraceptivos pode resultar em sangramentos, e até mesmo em gravidez
indesejada 65,83,86.
Indicação Fonte de Ensaios Conclusão
Referência terapêutica informação clínicos (nº) Depressão leve Revisão 12
Superior ao placebo e similar 23 a moderada sistemática a imipramina e
amitriptilina Meta-análise 23 Superior ao placebo e similar 24 a imipramina e
amitriptilina Revisão 6 Superior ao placebo, mas não similar 25 sistemática a
imipramina e amitriptilina. Falta de evidências de eficácia na depressão grave
Meta-análise 6 Superior ao placebo, mas não similar a imipramina 26 e
amitriptilina. Condução de novos ensaios para avaliar a eficácia na depressão
grave. Revisão 8 Superior ao placebo. Similar a imipramina e 27 sistemática
amitriptilina em doses subterapêuticas. Ensaio clínico 1 Superior ao placebo e
a imipramina 28 Ensaio clínico 1 Superior a imipramina 29 Ensaio clínico 1
Similar a fluoxetina 30 Ensaio clínico 1 Fortes evidências de eficácia e
segurança 31 Ensaio clínico 1 Superior a sertralina 32 Ensaio clínico 1
Superior ao placebo, mas não a sertralina 33 Tabela 3. Resultados da pesquisa
bibliográfica sobre as evidências de eficácia e segurança do uso de
medicamentos fitoterápicos à base dos extratos padronizados de hipérico
(Hypericum perforatum L.).
Kava As evidências geradas até o
momento, pelas revisões sistemáticas e meta-análises dos ensaios clínicos
randomizados e controlados por placebo mostram que os extratos secos de kava,
padronizados em kavalactonas, foram mais eficazes do que o placebo no
tratamento sintomático da ansiedade (Tabela 5). Contudo, a maioria dos ensaios
clínicos foi desenvolvida por um período de tratamento máximo de dois meses e,
portanto, deve-se investigar tal uso por um período maior. Além disso,
verificou-se que muitos ensaios foram conduzidos empregando-se metodologias
inadequadas e ineficazes 34,35. Desta forma, fica claro que, mesmo tratando-se
de produtos com grande volume de vendas 9, há necessidade de se realizar
estudos clínicos rigorosos que possam detectar com precisão sua eficácia e
segurança 87.
Indicação terapêutica Tratamento
sintomático da depressão leve a moderada Posologia 900 mg, divididos em
2-3X/dia. Efeitos adversos Raros e similares, quando comparados aos dos
pacientes tratados com placebo, mas menos freqüentes do que aqueles tratados os
antidepressivos clássicos. Pode causar fotossensibilidade com doses superiores
a 3600 mg/dia. Contra-indicações Durante a gravidez e/ou lactação Interações
Pode alterar a concentração plasmática da digoxina, amitriptilina, indinavir,
ciclosporina, medicamentosas tacrolimus, varfarina, teofilina, etinilestradiol,
alprazolam, antineoplásicos e fenitoína. Pode ocorrer síndrome serotoninérgica
pela associação com fármacos antidepressivos. Tabela 4. Informações sobre
indicação terapêutica, posologia, efeitos adversos, contra-indicações e
interações medicamentosas de medicamentos fitoterápicos à base dos extratos
padronizados de hipérico (Hypericum perforatum L.). Indicação Fonte de Ensaios
Conclusão Referência terapêutica informação clínicos (nº) Revisão 4 Superior ao
placebo, mas com possível 34 sistemática superestimação dos resultados
Meta-análise 3 Superior ao placebo, mas com possível 34 Ansiedade
superestimação dos resultados Revisão 5 Superior ao placebo 35 sistemática
Meta-análise 6 Superior ao placebo 35 Tabela 5. Resultados da pesquisa
bibliográfica sobre as evidências de eficácia e segurança do uso de
medicamentos fitoterápicos à base dos extratos padronizados de kava (Piper
methysticum G. Forst.). Indicação terapêutica Tratamento da ansiedade
generalizada Posologia 300 mg, divididos em 2-3X/dia. Efeitos adversos
Geralmente raros, mas podem ocorrer distúrbios estomacais, agitação, tremor, cefaléia,
cansaço, distúrbios visuais e coloração amarelada da pele, unhas e cabelos.
Hepatoxicidade com doses acima de 100x a dose terapêutica Contra-indicações
Durante a gravidez e/ou lactação, e por pacientes com depressão endógena.
Interações Aumento da concentração plasmática de benzodiazepínicos,
bromocriptina, pergolida, medicamentosas pramipexol, levodopa e amantadina.
Redução da concentração plasmática das fenotiazinas. Tabela 6. Informações
sobre indicação terapêutica, posologia, efeitos adversos, contra-indicações e
interações medicamentosas de medicamentos fitoterápicos à base dos extratos
padronizados de kava (Piper methysticum G. Forst.).
Devido aos relatos de
hepatotoxicidade 88-98 e as possíveis interações com outros fármacos (Tabela
6), medicamentos fitoterápicos à base de kava devem ser somente utilizados sob
supervisão médica e orientação farmacêutica. Stevinson e colaboradores (2002)
87 incluíram, numa revisão sistemática sobre segurança de kava, um relatório do
Centro Internacional de Monitoramento de Fármacos da Organização Mundial da
Saúde sobre os casos de efeitos adversos ocorridos em pacientes tratados com
produtos à base de kava. No entanto, não foi estabelecida, para todos os casos,
uma causalidade entre a utilização de preparações à base de kava e a
hepatotoxicidade, pois a descrição de muitos desses casos e as características
dos produtos utilizados eram insuficientes. Inclusive, alguns dos indivíduos
envolvidos haviam ingerido kava em doses acima de 100X a dose terapêutica.
Assim, apesar das evidências disponíveis sobre segurança serem limitadas, os
dados sugerem que a kava é geralmente bem tolerada quando utilizada na dosagem
recomendada, e fica clara a necessidade de se desenvolver mais estudos para a
determinação da natureza e da freqüência desses possíveis efeitos adversos 87.
Valeriana As evidências geradas até o momento por uma revisão sistemática dos
ensaios clínicos disponíveis 36 (Tabela 7), mostram que os extratos de
valeriana apresentam resultados promissores como uma alternativa terapêutica
nos distúrbios do sono. Mas, devido aos problemas metodológicos dos ensaios
individuais e os resultados conflitantes, as evidências de eficácia disponíveis
são consideradas fracas para justificar o uso da valeriana no tratamento dos distúrbios
do sono, indicando a necessidade da realização de novos ensaios clínicos. Os
efeitos adversos são considerados raros e leves, mas devem ser melhor
avaliados, pois foram descritos somente após tratamento a curto prazo (até 28
dias de tratamento, Tabela 8). A valeriana apresenta potenciais interações com
fármacos que também atuam no sistema nervoso central, pois podem ocorrer
efeitos aditivos, sinérgicos e/ou antagônicos e, assim, causar potencialização
ou redução dos efeitos sedativos destes fármacos 9. Isto é muito importante
pelo fato de que um grande número de pessoas utiliza medicamentos com ação no
sistema nervoso central e se automedicam com medicamentos fitoterápicos à base
de valeriana 99.
Indicação Fonte de Ensaios Conclusão
Referência terapêutica informação clínicos (nº) Hipnótico Revisão 9 Falta de
evidências de eficácia 36 e sedativo sistemática Ansiolítico Revisão narrativa
5 Falta de evidências de eficácia 37 Tabela 7. Resultados da pesquisa
bibliográfica sobre as evidências de eficácia e segurança do uso de
medicamentos fitoterápicos à base dos extratos de valeriana (Valeriana
officinalis L.). Indicação terapêutica Sedativo e para o tratamento dos
distúrbios do sono. Posologia 400-900 mg/dia dos extratos aquoso e etanólico.
Efeitos adversos O perfil de segurança deve ser melhor avaliado. Podem ocorrer
tonturas, cefaléia, indisposição gástrica, alergias de contato e midríase.
Contra-indicações Durante a gravidez e/ou lactação. Interações Potencial
interação com fármacos depressores do sistema nervoso central, medicamentosas
tais como barbitúricos, anestésicos e benzodiazepínicos. Tabela 8. Informações
sobre indicação terapêutica, posologia, efeitos adversos, contra-indicações e
interações medicamentosas de medicamentos fitoterápicos à base dos extratos de
valeriana (Valeriana officinalis L.).
CONCLUSÃO A fitoterapia baseada em
evidências enfatiza a necessidade da avaliação crítica das informações sobre
medicamentos fitoterápicos. Esta revisão bibliográfica avaliou e sistematizou
as melhores evidências externas obtidas na literatura sobre a eficácia e a
segurança dos medicamentos fitoterápicos elaborados com ginkgo, hipérico, kava
e valeriana. As evidências clínicas disponíveis sugerem a eficácia do ginkgo no
tratamento sintomático da claudicação intermitente, da doença de Alzheimer e da
falta de memória e demência associadas com a idade, mas não justificam seu uso
no tratamento do zumbido e da falta de memória em pessoas saudáveis, com menos
de 60 anos. Há fortes evidências de eficácia do hipérico no tratamento da
depressão leve a moderada. A kava é mais eficaz do que o placebo no tratamento
sintomático da ansiedade, mas devem ser conduzidos novos ensaios clínicos por
um período maior que dois meses de tratamento. As evidências indicam resultados
promissores para a utilização da valeriana no tratamento dos distúrbios do
sono, mas devem ser conduzidos novos ensaios clínicos corrigindo as falhas
metodológicas dos estudos disponíveis.
Agradecimentos. O primeiro autor
agradece à CAPES/MEC pela concessão da bolsa de Mestrado. F.N. Garcia é
Bolsista de Iniciação Científica do Programa PIBIC/CNPq/UFSC. C.M.O.Simões é
Bolsista de Produtividade em Pesquisa (1C) do CNPq/MCT, Brasil.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS 1. Simões, C.M.O., L.A. Mentz, E.P. Schenkel, B.E. Irgang &
J.R. Stehmann (1998) “Plantas da medicina popular no Rio Grande do Sul”,
Editora da Universidade/UFRGS, Porto Alegre, ed. 5. 2. Ernst, E. (1999) Pharm. News. 6:
17-20. 3. Atallah, A.N. & A.A Castro. Disponível em: .
Acesso em: 18 dez. 2003. 4. Easterbrook, P.J., J.A. Berlin, R. Gopalan &
D.R. Mattews (1991) Lancet. 337:
867-72. 5. Ernst, E. (2001) Med. J. Aust. 175:175. 6. Rotblatt, M. & I.
Ziment (2002) “Evidence-based herbal medicine”, Hanley & Belfus,
Philadelphia. 7. Ernst, E. (2001) Diabetes Res.
Wellness Found. 3: 1-3. 8. Alexandre, R. F. (2004) Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Farmácia/Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil. 9. Sparreboom, A., M.C. Cox, M.R. Acharya & W.D. Figg (2004) J.
Clin. Oncol. 22: 2489-503. 10. Blumenthal, M., A. Goldberg & J. Brinckmann
(2000) “Herbal Medicine: Expanded Commission E monographs”. American Botanical
Council, Austin. 11. ESCOP (1997) “Monographs on the medicinal uses of plant
drugs” Exeter, UK. 12. World Health Organization (1999) “WHO monographs
selected medicinal plants”. Geneva: WHO. 13. Kleijnen, J., & P. Knipschild
(1992) Br. J. Clin. Pharmacol. 34: 352-8. 14. Hopfenmüller, W. (1994)
Arzneimittelforschung. 44: 1005-13. 15. Oken, B.S., D.M., Storzbach & J.A.
Kaye (1998) Arch. Neurol. 55: 1409-15. 16. Ernst, E & M.H. Pittler (1999)
Clin. Drug. Invest. 17: 301-8. 17. Pittler, M. H & E Ernst (2000) Am. J.
Med. 108: 276-81. 18. Ernst, E & C. Stevinson (1999) Clin. Otolaryngol. 24:
1 64-7. 19. Drew, S & E. Davies (2001) Brit. Med. J. 322: 1-6. 20.
Morgenstern, C & E. Biermann (2002) Int. J. Clin. Pharmacol. Ther. 40:
188-97. 21. Rejali, D., A. Sivakumar & N. Balaji (2004) Clin. Otolaryngol.
29: 226-31. 22. Canter, P.H & E. Ernst (2002) Psychopharmacol. Bull. 36:
108-23. 23. Ernst, E (1995) Phytomedicine. 2: 47-71. 24. Linde, K., G. Ramirez,
C.D. Mulrow, A. Pauls, W. Weidenhammer & D. Melchart (1996) Brit. Med. J.
313: 253-8. 25. Stevinson, C & E. Ernst (1999) Eur. Neuropsychopharmacol.
9: 501-5. 26. Kim, H. L.; J. Streltzer & D. Goebert (1999) J. Nerv. Ment.
Dis. 187: 532-8. 27. Gaster, B & J. H. Holroyd (2000) Arch.Intern. Med.
160: 152-6. 28. Phillip, M., R. Kohnen & K. O Hiller (1999) Brit. Med. J.
319: 1534-9. 29. Woelk, H (2000) Brit. Med. J. 321: 536-9. 30. Schrader, E
(2000) Int. Clin. Psychopharmacol. 15: 61-8. 31. Lecrubier, Y., G. Clerc, R.
Didi & M. Kieser (2002) Am. J. Psychiatry. 59: 1361-6. 32. Brenner, R &
V. Azbel (2000) Clin. Ther. 22: 411-9. 33. Hypericum Depression Trial Study
Group (2002) J. Am. Med. Assoc. 287: 1807-14. 34. Pittler, M.H & E. Ernst
(2000) J. Clin. Psychopharmacol. 20: 84-9. 35. Pittler, M.H & E. Ernst
(2002) Perfusion. 15: 474-81. 36. Stevinson C & E. Ernst (2000) Sleep Med.
1: 91- 9. 37. Hadley, S & J.J. Petry (2003) Am. Fam. Physician. 67: 1755-8.
38. Gerhardt, G., K. Rogalla & J. Jaeger (1990) Fortsch. Med. 108: 384-8.
39. Rogers, S. L., M.R. Farlow, R.S. Dooby, R. Mohs & L.T. Friedhoff (1998)
Neurology. 50: 136-45. 40. Wettstein, A (2000) Phytomedicine. 6: 393-401. 41.
Le Bars, P.L.F.M. Velasco, J.M. Ferguson, E.C. Dessain & M. Kieser (2002)
Neuropsychobiology. 45: 19-26 42. Schulz, V (2003) Phytomedicine. 10:74-9. 43.
Böhmer D. S., P. A, Kalinski & P. Szögy (1988) Herz Kreislauf. 20: 5-8. 44.
Jacoby, D & E.R. Mohler (2004) Drugs. 64: 1657-70. 45. Hazell, J.W. P &
P.J. Jastreboff (1990) J. Otolaryngol. 19: 1-5. 46. Axelsson, A & A.
Ringdhal (1989) Br. J. Audiol. 23: 53-62. 47. Wilhelmet, T.; R.O. Seidl &
A. Ernst (1998) Med. Monatsschr. Pharm. 21: 336-44. 48. Miller, L (1998) Arch.
Intern. Med. 158: 2200- 11. 49. Izzo, A.A & E. Ernst (2001) Drugs. 61:
2163-75. 50. Rotblatt, M. & I. Ziment (2002) “Evidence-based herbal
medicine”. Philadelphia: Hanley & Belfus. 51. Matthews, M. K (1998)
Neurology. 50: 1933-4. 52. Rowin, J & Lewis, S. L (1996) Neurology. 46:
1775-6. 53. Galluzzi, S., O. Zanetti, M. Trabucchi & G. B., Frisoni (2000)
J. Neurol. Neurosurg. Psychiatry. 68: 679-80. 54. Meisel, C., A. Johne, I.
Roots (2003) Atherosclerosis. 167: 367.
55. Shelton,
R.C., M.B., Keller, A. Geselenberg, D.L. Dunner, R. Hirschifield, M.E. Thase,
J. Russel, R.B. Lydiard, P. Crits-Cristoph, R. Gallop, L. Todd, D. Hellerstein,
P. Goodnick, G. Keitner, S. Stahl & U Halbreich (2001) J. Am. Med. Assoc.
285: 1978-86. 56. Ernst, E., M.H. Pittler, C. Stevinson & A. White (2001)
“The desktop guide to complementary and alternative medicine”. London: Mosby.
57. Markowitz, J.S., C.L. De Vane, D.W. Boulton, S.W. Carson, Z. Nahas &
S.C. Risch (2000) Pharmacol. Lett. 66: 133-9. 58. Obach, R.S (2000) J.
Pharmacol. Exp. Ther. 294: 88-95. 59. Roby, C.A., G.D., Anderson, E. Kantor,
D.A. Dryer & A.H. Burstein (2000) Clin. Pharmacol. Ther. 67: 451-7. 60.
Moore, L.B., B. Goodwin, S.A. Jones, G.B. Wiseley, C.J. Serabji-Singh, T.M.
Willson, J.L. Collins & S.A. Kliewer (2000) Proc. Natl. Acad. Sci. USA. 97:
7500-2. 61. Bertilsson, G., H. Heidrich & K. Svensson (2001) Proc. Natl.
Acad. Sci. USA. 95: 1208-14. 62. Dürr, D., B. Stieger, G.A. Kullk-Ublick, K.M.
Rentsch, H.C., Steinert, P.J. Meier & K. Fattinger (2000) Clin. Pharmacol.
Ther. 68: 598-604. 63. Piscitelli, S., A.H. Burstein, D. Chaitt, R.M. Alfaro,
J. Falioon (2000) Lancet. 355: 547-8. 64. Hennessey, M., D. Kelleher, J. P.
Spiers, M. Barry, P. Kavanagh, D. Back, F. Mulcahy & J. Feely (2002) Br. J.
Clin. Pharmacol. 53: 75-82. 65. Zhou, S., E. Chan, S. Pan, M. Huang &
E.J.D. Lee (2004) J. Psychopharmacol. 18: 262-76. 66. Izzo, A.A & E. Ernst
(2001) Drugs. 61: 2163-75. 67. Johne, A., J. Brockmöller, S. Bauer, A. Maurer,
M. Langheinrich & I. Roots (1999) Clin. Pharmacol. Ther. 66: 338-45. 68.
Mueller, S.C., B. Uehleke, H. Woehling, M. Petzsch, J. Majcher-Pesynska, E. M.
Hehl, H. Sievers, B. Frank, A.K. Riethling & B. Drewelow (2004) Clin.
Pharmacol. Ther. 75: 546-57. 69. Sugimoto, K., M. Ohmori, S. Tsuruoka, K.
Nishiki, A. Kawaguchi & K. Harada (2001) Clin. Pharmacol. Ther. 70: 518-24.
70. Roots, I., A. Johne, J. Schmider, J. Brockmöller, A. Maurer, E. Stömer
& F. Donath (2000) Clin. Pharmacol. Ther. 67: 159. 71. Johne, A., J.
Schmider, J. Brockmoller, A. M. Stadelmann, E. Storner, Bauer, S., G. Scholler,
M. Langheirinch & I. Roots (2002) J. Clin. Psychopharmacol. 22: 46-54. 72.
Bardenel, D. M., B. Yusufi, D. O’Shea & C.J. Bench (2000) J.
Psychopharmacol. 14: 84-6. 73. Spinella, M & L.A. Eaton (2002) Brain. Inj.
16: 359-67. 74. Yue, Q. Y., C. Bergquist & B. Gerden (2000) Lancet. 355:
576-77. 75. Piscitelli, S., A.H, Burstein, D. Chaitt, R. M. Alfaro & J.
Falioon (2000) Lancet. 355: 547-8. 76. Nebel, A., B., B.J. Schneider; R.K.
Baker & D.J. Kroll (1999) Ann. Pharmacother. 33: 502.
77. Barone, G.W.; B.J. Curley, B.L.
Ketel, M.L. Lightffot & S.R. Abul-Ezz (2000) Ann. Pharmacother. 34: 1013-16. 78.
Karliova, M., U. Treichel, M. Malago, A. Frilling, G. Gerken & C.E.
Broelsch (2000) J. Hepatol. 33: 853-5. 79. Mai, I., H. Jrüger, K. Budde, A.
Johne, H. Brockmöller, H.H. Neumayer & I. Roots (2000) J. Clin. Pharmacol.
Ther. 38: 500-2. 80. Ruschitzka, F., P. J. Meier, M. Turina, T. F. Lüscher
& G. Noll (2000) Lancet. 355: 548-9. 81. Bolley, R., C. Zulke, M. Kammerl,
M. Fischereder & B. K. Kramer (2002) Transplantation. 73: 1009. 82.
Markowitz, J.S., C.L. De Vane, D.W. Boulton, S.W. Carson, Z. Nahas & S.C.
Risch (2000) Pharmacol. Lett. 66: 133-9. 83. Ernst, E (1999) Lancet. 354:
2014-5. 84. Murphy, P.A (2002) J. Midwifery. Womens Health. 47: 447-50. 85.
Schwarz, U.I., B. Büschel & W. Kirch (2003) Br. J. Clin. Pharmacol. 55:
112-3. 86. Stephen, D. H., W. Zaiqi, S.M. Huang, M.A. Hamman, N. Vasavada, A.Q.
Adigun, J.K. Hilligoss, M, Miller & C. Gorski (2003) Clin. Pharmacol. Ther.
74: 525-35. 87. Stevinson, C., A. Huntley & E. Ernst (2002) Drug. Saf. 25:
251-61. 88. Strahl, S., V. Ehret, H. H., Dahm & K.P. Maier (1998) Dtsch.
Med. Wochenschr. 123: 1410-4. 89. Russmann, S., B. H. Lauterburg & A.
Helbling (2001) Ann. Intern. Med. 135: 68-9. 90. Escher, M., J. Desmeules, E.
Giostra & G. Mentha (2001) Brit. Med. J. 322: 139. 91. Kraft, M., T. W.
Spahn, J. Menzel, N. Senninger, K.H. Dietl, H. Herbst, W. Domschke & M.M.
Lerch (2001) Dtsch. Med. Wochenschr. 126: 970-2. 92. Campo, J.V., J. McNabb,
J.M. Perel, G.V. Mazariegos, S.L. Hasegawa & J. Reyes (2002) J. Am. Acad.
Child. Adolesc. Psychiatry. 41: 631-2. 93. Brauer, R. B., M. Stangl, M., J. R
Stewart, R. Pfab & K. Becker (2003) J. Clin. Psychiatry. 64: 216-8. 94.
Gow, P. J., N. L. Connely, R. L. Hill, P. Crowley & P.W. Angus (2003) Med.
J. Aust. 178: 442-3. 95. Humberston, C.L., J. Akhtar & E.P. Krenzelok
(2003) J. Toxicol. Clin. Toxicol. 41: 109-13. 96. Stickel, F., H.M. Baumuller,
K. Seitz, D. Vasilakis, G. Seitz, H.K. Seitz HK & D. Schuppan (2003) J.
Hepatol. 39: 62-7. 97. Teschke, R (2003) Z. Gastroenterol. 41: 395- 4004. 98.
Teschke, R., W. Gaus & D. Loew (2003) Phytomedicine 10: 440-6. 99.
Houghton, P (1999) J. Pharm. Pharmacol. 51: 505-512.
Fitoterapia Baseada em Evidências.
Parte 2
Acta Farm. Bonaerense 24 (2): 310-4
(2005) Recibido el 21 de septiembre de 2004 Aceptado el 20 de diciembre de 2004
Revisiones PALAVRAS-CHAVE: Alcachofra, Castanha-da-índia, Fitoterapia baseada
em evidências, Ginseng, Maracujá. KEY WORDS: Artichoke, Evidence-based herbal medicine, Ginseng, Horse
chestnut, Passion flower. * Autor a quem a correspondência
deverá ser enviada. Fitoterapia Baseada em Evidências. Parte 2. Medicamentos
Fitoterápicos elaborados com Alcachofra, Castanha-da-Índia, Ginseng e Maracujá
Rodrigo Fernandes ALEXANDRE, Fernanda Nath GARCIA & Cláudia Maria Oliveira
SIMÕES* Laboratório de Farmacognosia, Departamento de Ciências Farmacêuticas,
Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina. CEP
88040-900, Florianópolis, Santa Catarina-SC, BRASIL.
RESUMO. O uso da fitoterapia tem
aumentado consideravelmente. Muitas vezes, estudos não científicos e a
experiência popular são valorizados em preferência aos ensaios clínicos, que
servem como suporte para as informações sobre indicações de uso, eficácia e
segurança dos medicamentos fitoterápicos. A fitoterapia baseada em evidências
permite uma avaliação crítica do seu emprego, maximizando seus benefícios e
minimizando seus riscos. Através dessa ferramenta, verificou-se que as
evidências disponíveis, até o momento, são fracas para justificar o uso da
alcachofra no tratamento da hipercolesterolemia e que a castanhada-índia é uma
alternativa promissora no tratamento da insuficiência venosa crônica. As
evidências do ginseng e do maracujá são insuficientes para justificar sua
utilização na prática clínica SUMMARY. “Evidence-based Herbal Medicine. Part 2. Phytopharmaceuticals elaborated
with Artichoke, Horse chestnut, Ginseng and Passion Flower”. Interest in the
use of herbal products has grown significantly in Western World. Many times
non-scientific studies and traditional experiences of use are given more credit
than clinical assays. The former may be considered as a support to obtain
information about uses, efficacy and safety of phytopharmaceuticals.
Evidence-based herbal medicine allows a critical evaluation of its use as a
therapeutic alternative, maximizing its benefits and minimizing its risks. The
evidence available shows that the use the artichoke in the treatment of
hypercholesterolemia is not justified and that the horse chestnut is a
promising alternative in the symptomatic treatment of chronic venous insufficiency.
The evidences available about ginseng and passion flower are not enough to
justify their safe use in clinical practice.
INTRODUÇÃO Em continuação à primeira
parte deste trabalho 1, serão explicitadas aqui as informações encontradas na
literatura sobre a eficácia clínica e a segurança dos medicamentos
fitoterápicos elaborados com alcachofra (Cynara scolymus L.), castanha-da-índia
(Aesculus hippocastanum L.), ginseng (Panax ginseng M. A. Mey) e maracujá
(Passiflora spp.). MÉTODOS De acordo com um levantamento realizado junto às
distribuidoras de medicamentos fitoterápicos para o Estado de Santa
Catarina/Brasil 2 e confirmado por dados recentes do mercado mundial desses
produtos 3, os medicamentos fitoterápicos mais comercializados são elaborados.
com ginkgo, hipérico, kava,
valeriana, alcachofra, castanha-da-índia, ginseng e maracujá. Nesta Parte 2 do
trabalho serão abordados os quatro últimos e, na Parte 1, foram abordados os
quatro primeiros 1. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica para a busca das
melhores evidências externas de eficácia e segurança para os medicamentos
fitoterápicos preparados com alcachofra, castanha-daíndia, ginseng e maracujá.
Para isso, foram utilizadas as bases de dados MEDLINE (através do PubMed) e
COCHRANE COLLABORATION, sem restrição de data e idioma de publicação, e
revisões sistemáticas e meta-análises dos ensaios clínicos, randomizados,
duplos-cegos e controlados, realizados com medicamentos fitoterápicos
elaborados com as plantas medicinais em questão. Além disso, foram realizadas
buscas manuais de ensaios clínicos nas listas de referências de livros
especializados e/ou dos artigos já localizados. Também foram consultados
ensaios clínicos publicados após a publicação da última revisão sistemática
e/ou meta-análise. Realizou-se, também, um levantamento bibliográfico para
compilar as melhores informações sobre indicações terapêuticas, posologia,
potenciais interações medicamentosas, possíveis efeitos adversos e
contra-indicações. Estas informações foram obtidas de livros especializados,
artigos de revisão, artigos originais de estudos farmacológicos e toxicológicos
pré-clínicos, monografias da Comissão E 4, da ESCOP 5 e da Organização Mundial
da Saúde 6. No caso específico do maracujá (Passiflora spp.), por ser uma planta
nativa do Brasil, além de todas as fontes já citadas, foram obtidos todo tipo
de trabalhos realizados com essa planta, independentemente do assunto abordado,
através de uma busca nos livros disponíveis de resumos de congressos nacionais
e internacionais da área (Simpósios de Plantas Medicinais do Brasil, Simpósios
Brasileiros de Farmacognosia, Congressos Nacionais de Botânica, Simpósio
Brasil-China de Química e Farmacologia de Produtos Naturais, Congressos de
Ciências Farmacêuticas do Conesul e Simpósio Europeu de
Etnofarmacologia/França).
PALAVRAS-CHAVE: Alcachofra,
Castanha-da-índia, Fitoterapia baseada em evidências, Ginseng, Maracujá. KEY WORDS: Artichoke, Evidence-based
herbal medicine, Ginseng, Horse chestnut, Passion flower. * Autor a quem a correspondência deverá ser enviada.
RESULTADOS Os resultados da pesquisa
bibliográfica realizada para a avaliação clínica da eficácia e segurança dos
medicamentos fitoterápicos elaborados com alcachofra (Cynara scolymus L.),
castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum L.) e ginseng (Panax ginseng C.A.
Mev.) estão apresentados nas Tabelas 1-6. Os resultados relativos ao maracujá
(Passiflora spp.) serão apresentados diretamente na discussão. DISCUSSÃO
Alcachofra Foram localizados poucos ensaios clínicos que investigaram os
efeitos hipocolesterolêmicos de medicamentos fitoterápicos elaborados com a
alcachofra. Para avaliar a eficácia clínica da alcachofra, foi realizada uma
revisão sistemática 7, mas, devido as limitações dos estudos, foi considerado
apenas um ensaio clínico com qualidade metodológica aceitável, cujos resultados
foram promissores e confirmados por um ensaio clínico conduzido posteriormente
8. Porém, devido à limitação de publicações de qualidade metodológica
aceitável, as evidências geradas são insuficientes, necessitando a realização
de novos ensaios para justificar o seu uso na prática clínica. Da mesma forma,
o perfil de segurança da alcachofra ainda não está bem definido, mas sabe-se
que ela pode provocar efeitos adversos leves, tais como flatulência e reações
alérgicas 15 (Tabelas 1 e 2).
Indicação Fonte de Ensaios Conclusão
Referência Terapêutica informação clínicos (nº) Revisão sistemática 1 Fracas
evidências de eficácia 7 e segurança. Justifica-se a Hipocolesterolemiante
condução de novos ensaios clínicos. Ensaio clínico 1 Resultados promissores 9
de eficácia e segurança. Tabela 1. Resultados da pesquisa bibliográfica sobre
as evidências de eficácia e segurança do uso de medicamentos fitoterápicos à
base dos extratos padronizados de alcachofra (Cynara scolymus L.). Indicação
terapêutica Tratamento da hipercolesterolemia Posologia 0,5 - 1,92 g do extrato
seco, divididos em 2-3X/dia. Efeitos adversos Flatulência, fraqueza e aumento
do apetite. Contra-indicações Pacientes com obstrução do ducto biliar
Interações medicamentosas Não foi encontrada documentação sobre possíveis
interações medicamentosas. Tabela 2. Informações sobre indicação terapêutica,
posologia, efeitos adversos, contra-indicações e interações medicamentosas de
medicamentos fitoterápicos à base dos extratos padronizados de alcachofra
(Cynara scolymus L.).
Castanha-da-índia As evidências
geradas até o momento pelos ensaios clínicos, analisados em uma revisão
sistemática 9 e duas meta-análises 10,11 (Tabela 3), justificam o uso de
medicamentos fitoterápicos elaborados com extratos secos das sementes da
castanha-da-índia, padronizados em escina, para o tratamento sintomático da
insuficiência venosa crônica. Há evidências de que esses medicamentos são mais
eficazes do que o placebo e, também, tão eficazes quanto a terapia de
compressão dos membros inferiores com meias elásticas e os medicamentos à base
de rutosídeo. Portanto, como monoterapia, a castanha-da-índia pode ser uma
alternativa apropriada para o tratamento sintomático de pacientes com
insuficiência venosa crônica 9-11. No que diz respeito à segurança, concluiu-se
que esses medicamentos são bem tolerados, apesar de terem sido relatados alguns
efeitos adversos relacionados ao trato gastrintestinal 9 (Tabela 4). Essas
reações adversas podem ser reduzidas com o uso de medicamentos fitoterápicos na
forma farmacêutica de liberação prolongada ou com revestimento entérico 16.
Ginseng Muitos ensaios clínicos foram
desenvolvidos com medicamentos fitoterápicos à base de ginseng para avaliação
de sua eficácia e segurança. No entanto, a avaliação crítica desses ensaios
clínicos demonstrou que a eficácia dos medicamentos à base de ginseng não pôde
ser estabelecida para nenhuma das indicações propostas. As dificuldades para se
estabelecer a eficácia do Panax ginseng podem ser verificadas pela baixa
qualidade metodológica dos ensaios clínicos, tais como falta de padronização
das doses, pequeno tamanho das amostras, curto período de tratamento,
combinação do ginseng com outras substâncias e, de igual importância, a falta
de garantia da qualidade farmacêutica dos medicamentos testados 12 (Tabela 5).
Em relação à segurança, verificou-se que esses medicamentos podem causar
efeitos adversos graves e apresentar potenciais interações com alguns fármacos
(Tabela 6). O grande problema para a avaliação da segurança de medicamentos
elaborados com P. ginseng é que a maioria dos dados foi obtida de relatos de
casos, nos quais os autores não se preocuparam em avaliar a qualidade dos
medicamentos fitoterápicos utilizados (= conhecer a identidade botânica da
matéria-prima, a possível presença de contaminantes e/ou adulterações e a
quantidade das substâncias ativas presentes). Com base nesses dados, fica clara
a necessidade da condução de novos ensaios clínicos para aumentar o corpo de
evidências clínicas de eficácia e segurança dos medicamentos à base de ginseng
12.
Indicação Fonte de Ensaios Conclusão
Referência terapêutica informação clínicos (nº) Revisão 13 Fortes evidências de
eficácia e segurança. 9 sistemática Justifica-se a condução de novos ensaios
clínicos. Meta-análise 14 Superior ao placebo, à compressão elástica dos 10
membros inferiores e ao uso do O-(β-hidróxietil)rutosídeo Meta-análise 16 Falta
de evidências de eficácia e segurança 11 Tabela 3. Resultados da pesquisa
bibliográfica sobre as evidências de eficácia e segurança do uso de
medicamentos fitoterápicos à base dos extratos padronizados de
castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum L.). Indicação terapêutica Tratamento
sintomático da insuficiência venosa crônica. Posologia O equivalente a 100-150
mg de escina, divididos em 2-3X/dia. Efeitos adversos Pruridos, náuseas, cefaléia
e tontura. Contra-indicações Gravidez e/ou lactação; pessoas com distúrbios de
coagulação sangüínea e/ou doença renal crônica. Interações Potencial interação
com anticoagulantes à base de cumarinas e varfarina, medicamentosas ácido
acetilsalicílico e antiinflamatórios não-esteroidais. Tabela 4. Informações
sobre indicação terapêutica, posologia, efeitos adversos, contra-indicações e
interações medicamentosas de medicamentos fitoterápicos à base dos extratos
padronizados de castanha-da-india (Aesculus hippocastanum L.). Insuficiência
venosa crônica Indicação Fonte de Ensaios Conclusão Referência terapêutica
informação clínicos (nº) Melhora da performance Revisão 16 Falta de evidências
de eficácia e segurança 12 física, cognitiva, sistemática psicomotora e como
imunomodulador Melhora da Revisão 16 Falta de evidências de eficácia e
segurança 13 performance física narrativa Climatério, Revisão 9 Falta de
evidências de eficácia e segurança 14 Diabetes Mellitus, narrativa falta de
memória e estresse Tabela 5. Resultados da pesquisa bibliográfica sobre as
evidências de eficácia e segurança do uso de medicamentos fitoterápicos à base
dos extratos padronizados de ginseng (Panax ginseng C.A. Mey.). Indicação
terapêutica Restauração da capacidade física e mental. Posologia 100 mg,
2-3X/dia. Efeitos adversos Diarréia, distúrbios gastrintestinais, cefaléia,
reações de contato, erupções da pele, redução da capacidade motora, ansiedade e
insônia. Podem ocorrer efeitos adversos graves, tais como mastalgia, sangramento
vaginal e ginecomastia. Contra-indicações Gravidez e/ou lactação, pacientes com
hipertensão, trombose coronária, doenças cardíacas severas, hemorragias,
hipersensibilidade nervosa, esquizofrenia e mania. Interações Potencial
interação com fenelzina, varfarina, hipoglicemiantes e estrógenos.
medicamentosas Tabela 6. Informações sobre indicação terapêutica, posologia,
efeitos adversos, contra-indicações e interações medicamentosas de medicamentos
fitoterápicos à base dos extratos padronizados de ginseng (Panax ginseng C. A.
Mey.).
Maracujá Os primeiros ensaios
clínicos realizados com maracujá (Passiflora incarnata) foram desenvolvidos com
medicamentos fitoterápicos elaborados em combinação com outras plantas
medicinais, tais como Valeriana officinalis e Melissa officinalis 17, Crataegus
monogyna 18, Crataegus oxyacantha, Ballota foetida, Valeriana officinalis, Cola
nitida e Paullinia cupana 19. Posteriormente, outros dois ensaios clínicos
foram conduzidos usando um medicamento fitoterápico elaborado somente com
Passiflora incarnata para avaliação de sua eficácia como ansiolítico 20 e como
uma alternativa para o tratamento da síndrome de abstinência em pacientes
dependentes de opióides 21. Os ensaios clínicos conduzidos com medicamentos
elaborados com associação de plantas medicinais 17-19 não contribuem para o
aumento do grau de evidências clínicas de eficácia e segurança de medicamentos
elaborados com P. incarnata, pois é difícil concluir sobre a eficácia clínica
dessa espécie em separado 15,16. Por exemplo, os resultados positivos,
relatados por Bourin e colaboradores (1997) 19, não podem ser relacionados
somente com P. incarnata, visto que V. officinalis também possui atividade
ansiolítica 22,23. Além disso, a associação de plantas utilizada parece ser
irracional, visto que Paullinia cupana e Cola nitida são plantas estimulantes
do sistema nervoso central 24. Da mesma forma, os medicamentos utilizados
nestes ensaios clínicos foram elaborados com extratos não padronizados, o que
dificulta qualquer extrapolação dos resultados. Na literatura consultada, foram
encontrados apenas dois ensaios clínicos conduzidos com medicamentos
fitoterápicos elaborados como monopreparações de P. incarnata 20,21. Os resultados
foram inconsistentes e, além disso, alguns problemas foram detectados nestes
dois estudos: (a) não foram explicitadas as características do medicamento
fitoterápico testado, conseqüentemente, não se conhece a quantidade dos
constituintes ativos na dose estabelecida; (b) foi avaliado um número muito
reduzido de pacientes; (c) foram avaliados pacientes com diagnósticos
diferentes. Desta forma, pode-se concluir que os dois ensaios clínicos
conduzidos com medicamentos fitoterápicos à base de P. incarnata como
monoterapia são insuficientes para garantir a eficácia e a segurança do
maracujá como alternativa no tratamento da ansiedade. Esses resultados têm
pouco significado prático e, com isso, os dados disponíveis são insuficientes
para gerar um corpo de evidências que justifique a utilização de medicamentos
fitoterápicos à base de maracujá na prática clínica como uma alternativa para o
tratamento dos distúrbios de ansiedade. CONCLUSÃO A fitoterapia baseada em
evidências enfatiza a necessidade da avaliação crítica das informações sobre
medicamentos fitoterápicos. Esta revisão bibliográfica avaliou e sistematizou
as melhores evidências externas obtidas na literatura sobre a eficácia e a
segurança dos medicamentos fitoterápicos elaborados com alcachofra,
castanha-da-índia, ginseng e maracujá. As evidências são fracas para justificar
o uso clínico da alcachofra no tratamento da hipercolesterolemia, indicando a
necessidade da condução de novos estudos. De acordo com os dados disponíveis
sobre eficácia e segurança, a castanha-daíndia é uma alternativa promissora no
tratamento da insuficiência venosa crônica. No entanto, as evidências
disponíveis para o ginseng e para o maracujá são insuficientes para justificar
sua utilização na prática clínica. Agradecimentos. O primeiro autor agradece à
CAPES/MEC pela concessão da bolsa de Mestrado. F.N.Garcia é Bolsista de
Iniciação Científica do Programa PIBIC/CNPq/UFSC. C.M.O.Simões é Bolsista de
Produtividade em Pesquisa (1C) do CNPq/MCT, Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.
Alexandre R.F., F.N. Garcia & C.M.O. Simões (2004) Acta Farm. Bonaerense
24: 300-9. 2. Alexandre, R.F. (2004) Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Farmácia/Universidade Federal de Santa Catarina,
Brasil.
3.
Sparreboom, A., M.C. Cox, M.R. Acharya & W.D. Figg (2004) J. Clin. Oncol.
22: 2489-503. 4. Blumenthal, M., A. Goldberg & J. Brinckmann (2000) “Herbal
Medicine: Expanded Commission E monographs”. American Botanical Council,
Austin. 5. ESCOP (1997) “Monographs on the medicinal uses of plant drugs” .
Exeter, UK. 6. World Health Organization (1999) “WHO monographs selected
medicinal plants”. Geneva: WHO. 7. Pittler M.H. & E. Ernst (1998)
Perfusion. 11: 338-40. 8. Englisch W., C. Beckers, M. Unkauf, M. Ruepp & V.
Zinserling (2000) Arzneim-Forsch/Drug. Res. 50: 260-5. 9. Pittler, M.H. &
E. Ernst (1998) Arch. Dermatol. 134: 1356-60. 10. Pittler, M.H. & E. Ernst
(2002) In: The Cochrane Library, Issue 1. Oxford: Update Software. 11. Siebert,
U., M. Brach, G. Sroczynki & K. Überla (2002) Int. Angiol. 21: 305-15. 12.
Vogler, B.K., M.H. Pittler & E. Ernst (1999) Eur. J. Clin. Pharmacol. 55:
567-75. 13. Bahrke, M.S. & W.P. Morgan (2000) Sports Med. 29: 113-33. 14.
Coleman, C.I., J.H. Hebert & P. Reddy (2003) J. Clin. Pharm. Ther. 28:
5-15. 15. Ernst, E., M.H. Pittler, C. Stevinson & A. White (2001) “The
desktop guide to complementary and alternative medicine”, Ed. Mosby, London.
16. Rotblatt, M. & I. Ziment (2002) “Evidence-based herbal medicine”,
Hanley & Belfus, Philadelphia. 17. Gerhard, U., V. Hobi, R. Kocher & C.
Konig (1991) Schweiz. Rundsch. Med. Prax. 80: 1481- 6. 18. Von Eiff, M., H.
Brunner, A. Haegeli, U. Kreuter, B. Martina, B. Meier & W. Scaffner (1994)
Acta. Ther. 20: 47-66. 19. Bourin, M., T. Bougerol, B. Guitton & E. Broutin
(1997) Fundam. Clin. Pharmacol. 11: 127- 32. 20. Akhondazeh, S., H.R. Naghavi,
M. Vazirian, A. Shayeganpour, H. Rashidi & M. Khani (2001) J. Clin. Pharm.
Ther. 26: 363-7. 21. Akhondazeh, S., L. Kashani, M. Mobaseri, S.H. Hosseini, S.
Nikzad & M. Khani (2001) J. Clin. Pharm. Ther. 26: 369-73. 22. Stevinson, C
& E. Ernst (2000) Sleep Med. 1: 91-9. 23. Hadley, S. & J.J. Petry
(2003) Am. Fam. Physician. 67: 1755-8. 24. Roberts, H.R. & J.J. Barone
(1983) Food. Technol. 37: 33-9.
Fonte:http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1339893950LAJOP_24_2_7_2_E2DEC835LY.pdf

Comentários
Postar um comentário