A CIÊNCIA QUE ESTUDA COMO SER FELIZ

  A psicologia hoje estuda a felicidade

A ciência que estuda como ser feliz

Para Tal Ben-Shahar, a felicidade é a combinação do bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual

Por 

Angélica Banhara

12/12/2023 04h31  Atualizado há 2 meses

As pessoas vivem em busca da felicidade. E muita gente idealiza esse sentimento como um estado de plenitude eterna, alcançado a partir de conquistas como encontrar o amor da vida, ter o emprego perfeito e fazer viagens excepcionais.

O tema é antigo e ao mesmo tempo atual: em 1998, a partir dos estudos do psicólogo Martin Seligman, professor da Universidade da Pensilvânia (EUA) e então presidente da Associação Americana de Psicologia (APA), foi criada dentro da psicologia uma área do conhecimento dedicada ao estudo e à produção de conhecimentos acerca da felicidade: a Psicologia Positiva.

Ao longo do século XX a psicologia havia se encarregado de estudar os problemas e patologias do ser humano priorizando o que havia de errado com as pessoas e com o que não funcionava. No século XXI a ciência, por meio da Psicologia Positiva, passou a estudar os melhores aspectos das pessoas, os motivos que fazem a vida valer a pena.


Na última década, a procura por cursos sobre felicidade disparou: há anos o curso de Ciência da Felicidade do israelense Tal Ben-Shahar está entre os mais concorridos da Universidade de Harvard (EUA). No Brasil, a Psicologia Positiva é curso de pós-graduação da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Paraná, do Rio Grande do Sul e de outras várias faculdades.

No mês passado, a 6ª edição do Congresso Internacional de Felicidade reuniu cerca de 2500 pessoas durante um final de semana em Curitiba, com a proposta de debater a felicidade e o bem-estar sob as esferas da ciência, filosofia, arte e espiritualidade. Foram 24 palestrantes do Brasil e exterior, entre eles Amit Goswami, PhD em física quântica e referência mundial em estudos da ciência e espiritualidade, o filósofo Mário Sergio Cortella, o psicólogo Rossandro Klinjey e a monja Cohen.

Mas, afinal, por que tanto interesse pelo estudo da felicidade?

— Além do histórico da própria Psicologia Positiva, acredito que o que vem motivando realmente esses estudos sobre a felicidade é o crescente adoecimento das pessoas no mundo todo — afirma Gustavo Arns, professor de Psicologia Positiva na PUC-RS e idealizador do congresso.

— Os níveis de depressão, ansiedade, burnout, síndrome do pânico e suicídio vem crescendo de maneira alarmante desde muito antes da pandemia. Em 2014, a OMS emitiu comunicados globais referindo-se a uma epidemia próxima de depressão — completa.

Como uma doença de fundo emocional se torna epidêmica, uma vez que o termo epidemia, em geral, se refere a um surto de uma doença infecciosa? Que tipo de que tipo de escolhas estamos fazendo enquanto sociedade?

— Construímos um estilo de vida que nos leva ao adoecimento.

Segundo Arns, esse é um dos motivos por que que estudar a felicidade vem se mostrando cada vez mais importante.

—Eventos como o Congresso Internacional de Felicidade são oportunidade para que as pessoas possam aprender mais, refletir sobre suas escolhas e encontrar caminhos para construir mais bem-estar e felicidade no seu dia a dia.

O professor defende que a felicidade é uma construção que depende das nossas escolhas. E se baseia nas pesquisas da professora de psicologia Sonja Lyubomirsky, da Universidade da California (UCLA-EUA), sobre as principais fontes da felicidade. A conclusão é que cerca de 50% da felicidade é determinada geneticamente; 10% é circunstancial, ou seja, depende de condições externas; e 40% depende das nossas escolhas.

—A genética não é uma sentença. Todos nós podemos ser mais felizes independentemente da genética e de comportamentos aprendidos no passado — afirma Arns.

Para Tal Ben-Shahar, a felicidade é a combinação do bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual. Isso significa que há cinco dimensões de comportamentos que podemos trabalhar para uma vida mais feliz.

  • Físico: é o cuidado com a saúde e a conexão corpo & mente, ou seja, procurar ter uma alimentação equilibrada, fazer atividade física, melhorar a qualidade do sono e desenvolver maneiras de administrar o estresse.
  • Emocional: buscar ferramentas para lidar melhor com as emoções, para ser mais positivo e resiliente, reconhecendo as coisas boas que acontecem no dia a dia e desenvolvendo a capacidade de se adaptar às situações desafiadoras.
  • Intelectual: tem a ver com o que lemos, ouvimos, como gastamos nosso tempo, onde colocamos a nossa atenção.
  • Relacional: cuidar e alimentar um relacionamento positivo consigo mesmo e com os outros.
  • Espiritual: não é necessariamente associado a religião, mas à busca de uma vida com sentido, com propósito, apreciando o presente com um olhar positivo.

— Estudos da neurociência capitaneados pelo professor Richard Davidson, PhD em neouropsicologia, mostram que a felicidade é uma habilidade, ou seja, pode ser aprendida, cultivada, desenvolvida a praticada — diz Arns.

Uma vida mais feliz não é uma vida livre de tristeza, livre de raiva. Essas são emoções naturais que fazem parte.

—Uma vida mais feliz é aquela em que eu reconheço a tristeza e a raiva que sinto e utilizo ferramentas para lidar com as frustrações, a raiva e a tristeza. Assim, vou atingindo mais bem-estar emocional. A tristeza continua lá e porque é parte da vida. Mas consigo compreender o que está gerando esse sentimento naquele momento para fazer as transformações necessárias. A tristeza me leva a reflexões profundas que a felicidade não leva.

Nesse contexto, autoconhecimento é fundamental para a construção da felicidade. Ele é a base: a partir desse conhecimento de nós mesmos vamos pautar nossas escolhas para construir mais bem-estar físico, emocional, mental, intelectual, relacional e espiritual.

—Sabemos que os relacionamentos são fundamentais. Quando pensamos em felicidade, falamos de família, de amigos. Mas quanto estamos nos dedicando àquilo que compreendemos como realmente essencial para nós, para nossa construção de felicidade e bem-estar? Isso é algo que cada um precisa identificar — conclui Arns.


Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/espiritualidade-e-bem-estar/post/2023/12/a-ciencia-que-estuda-como-ser-feliz.ghtml

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