VARIANTES MODERNAS DA HERPES TÊM LIGAÇÃO COM BEIJOS DA IDADE DO BRONZE

  

As variantes do herpes que causam a herpes labial moderna se espalharam após as migrações da Idade do Bronze (Foto: Hendo Wang/Unsplash)

As variantes do herpes que causam a herpes labial moderna se espalharam após as migrações da Idade do Bronze (Foto: Hendo Wang/Unsplash)

  • REDAÇÃO GALILEU
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Pela primeira vez, cientistas sequenciaram genomas antigos do vírus da herpes, causador de feridas nos lábios, que hoje infecta cerca de 3,7 bilhões de pessoas no mundo. Eles descobriram que as variantes modernas do vírus se espalharam após a aderência ao costume de trocar beijos no período das migrações da Idade do Bronze.

O grupo liderado por cientistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, registrou sua descobertas na quarta-feira (27) na revista Science Advances. A equipe analisou DNAs antigos do vírus herpes simplex (HSV-1), percebendo que uma cepa ultrapassou todas as outras há 4,5 mil anos.

Isso teria ocorrido na esteira das vastas migrações do período para a Europa a partir das pastagens das estepes da Eurásia. As taxas de transmissão aumentaram por uma série de booms populacionais associados e pelo beijo, uma nova prática cultural importada do oriente.

O homem adulto do século 14 de um hospital de caridade medieval de Cambridge (Foto: Universidade de Cambridge)

O homem adulto do século 14 de um hospital de caridade medieval de Cambridge (Foto: Universidade de Cambridge/Craig Cessford)

Segundo Charlotte Houldcroft, coautora sênior da pesquisa, a herpes facial só é transmitida por contato oral, então suas mutações ocorrem lentamente ao longo de séculos e milênios. "O mundo assistiu à mutação do vírus da Covid-19 em um ritmo rápido ao longo de semanas e meses. Um vírus como o da herpes evolui em uma escala de tempo muito maior”, compara em comunicado.

Bocas antigas

Em busca de mais informações, os pesquisadores rastrearam o DNA antigo recuperado de cerca de 3 mil sítios arqueológicos e encontraram só 4 mortos – do Reino Unido, Holanda e Rússia – que tinham infecções pelo vírus HSV-1. Juntos, eles totalizavam uma extensão de mil anos de história.

O mais velho era um homem de 1,5 mil anos, proveniente de um cemitério nos montes Urais, na Rússia. Dois outros foram enterrados na área de Cambridge, incluindo uma mulher na casa dos 30 ou 40 anos e um jovem no final da adolescência ou início dos 20 anos. Outro esqueleto, um homem da Holanda morto entre os 20 e 30 anos, apresentava dentes tortos com indícios de que fumava cachimbo e fora vítima de um ataque francês à sua aldeia em 1672.

Uma das amostras de DNA de herpes antigo veio de um homem do século 17 que era um fervoroso fumante de cachimbos de barro (Foto: Universidade de Cambridge)

Uma das amostras de DNA de herpes antigo veio de um homem do século 17 que era um fervoroso fumante de cachimbos de barro. Este era parte do crânio dele (Foto: Universidade de Cambridge/Barbara Veselka)

Como a herpes geralmente se manifesta com infecções na boca, pelo menos dois dos cadáveres antigos tinham doenças nas gengivas, fora aquele que era fumante. “Ao comparar DNA antigo com amostras de herpes do século 20, fomos capazes de analisar as diferenças e estimar uma taxa de mutação e, consequentemente, uma linha do tempo para a evolução do vírus”, explica Lucy van Dorp, outra coautora da pesquisa.

Segundo a pesquisa, o registro mais antigo conhecido de beijo é um manuscrito da Idade do Bronze do sul da Ásia, o que sugere que o costume pode ter viajado para o oeste com as migrações. Séculos depois, o imperador romano Tibério tentou proibir o beijo em funções oficiais para evitar a propagação de doenças — medida que pode estar relacionada à herpes.

Acredita-se que, na maior parte da pré-história humana, a transmissão do HSV-1 teria sido “vertical”: a mesma cepa passando da mãe infectada para o filho recém-nascido. “Todas as variantes na Europa hoje compartilham um ancestral da Idade do Bronze”, diz Houldcroft, ao em entrevista ao jornal The Guardian. “Existiam variantes antes disso, mas elas foram substituídas, provavelmente por causa do comportamento humano.”

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2022/07/variantes-modernas-da-herpes-tem-ligacao-com-beijos-da-idade-do-bronze.html

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