STARTUP BASILEIRA QUER RASTREAR CÂNCER DE MAMA A PARTIR DE EXAMES DE SANGUE

  

Biomarcador é capaz de identificar o câncer de mama através de exames de baixa complexidade, como o hemograma (Foto: Reprodução/Pixabay)

Biomarcador é capaz de identificar o câncer de mama através de exames de baixa complexidade, como o hemograma (Foto: Reprodução/Pixabay)

  • GABRIELA GARCIA*
 ATUALIZADO EM 


câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), excluindo o câncer de pele não melanoma, a doença acomete 29,7% das pacientes oncológicas brasileiras. Caso diagnosticada precocemente, com o auxílio da mamografia, a enfermidade tem boas chances de cura. 

Entretanto, segundo dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), apenas 21,8% dos municípios brasileiros possuem pelo menos um mamógrafo. A falta do equipamento na maior parte do país dificulta que as mulheres tenham acesso ao exame e, consequentemente, ao diagnóstico precoce.

Pensando nisso, a startup brasileira Huna empregou o conceito de machine learning para desenvolver um teste de predição de risco do câncer de mama mais acessível, que poderá ajudar a rastrear casos da doença com antecedência. Utilizando inteligência artificial, a healthtech criou painéis de marcadores sanguíneos que detectam a doença por meio de exames laboratoriais de rotina, como os exames de sangue. A iniciativa é apoiada pela Roche Farma Brasil.

Prever e prevenir

O projeto foi criado a partir de pesquisas que a Huna já havia desenvolvido acerca de outras doenças graves. “Na realidade, iniciamos os estudos há cinco anos, primeiramente buscando uma maneira de prevenir o Alzheimer”, conta Daniella Castro, cofundadora e diretora de tecnologia da Huna, à GALILEU.

Segundo a pesquisadora, no início, os estudos sobre o assunto buscavam soluções com tecnologias já muito conhecidas, como a tomografia por emissão de positrões (PET), um exame de diagnóstico por imagem.

Ela e sua equipe, porém, decidiram ir por outro caminho e testar uma abordagem não convencional. Analisando marcadores sanguíneos, eles tentaram observar se o desenvolvimento do Alzheimer deixava rastros no sangue. Ao onfirmarem essa hipótese, os pesquisadores construíram um painel com 12 proteínas sanguíneas capazes de prever o risco da doença com mais de 90% de acerto.

Com esse resultado, a equipe passou a analisar outras enfermidades, identificando infecções ativas Covid-19, prevendo também o risco de pré-eclâmpsia e até rastreando o câncer de mama.

“Foi nesse momento que percebemos que estávamos diante de uma mudança de paradigmas na medicina, ainda muito acostumada a olhar padrões lineares”, afirma a Castro. “Por exemplo, que se o nosso colesterol está acima de 200, sabemos que há um aumento no risco de problemas cardíacos. Se a glicose está acima de 100, há um princípio de diabetes”, ilustra. No entanto, a cofundadora da Huna explica que doenças como Alzheimer e câncer possuem processos biológicos complexos, que não deixam marcas lineares no sangue.

Com o auxílio da inteligência artificial será possível olhar para essas relações não lineares e identificar outros padrões de doença, seja para padição ou diagnóstico das enfermidade, como aposta a healthtech.

Mamografia é essencial

A nova tecnologia, porém, não vem para substituir os exames já existentes. O objetivo dos pesquisadores da Huna é criar um indicador de risco para o câncer de mama que seja capaza de realizar uma “triagem” entre as mulheres, tornando o rastreamento mais seletivo.

“Atualmente o rastreamento da doença é realizado de maneira mais abrangente, ou seja, a mamografia é indicada para todas as mulheres acima dos 40 anos. Porém, em alguns casos, pode não ser necessário”, destaca Castro.

De acordo com a especialista, o biomarcador sanguíneo pode indicar o risco de câncer de mama em algumas mulheres. A partir desse indicador, caso a paciente tenha predisposição para a doença, ela poderá realizar a mamografia e dar seguimento ao tratamento adequado.

O novo processo pode promover uma maior acessibilidade e economia à saúde pública, uma vez que o exame poderá ser disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS), poupando recursos ao priorizar quem necessita da mamografia.

Próximas etapas

O estudo ainda está em fase de validação e, no momento, dois painéis de marcadores sanguíneos já foram criados. Apesar da limitação de amostras, os números preliminares apresentaram bons resultados.

Através de parcerias com instituições públicas e privadas, como grupo Fleury, a equipe pretende ter acesso a uma base de dados mais relevante e, assim, apresentar novos resultados dentro de um ano. Se validado, a expectativa é ter o produto no mercado em 18 meses, como um teste, e, em dois ano, disseminar para todo o país.

“É essencial que projetos que buscam ampliar o acesso dos brasileiros a ferramentas e tratamentos inovadores sejam incentivados e impulsionados, para que os resultados cheguem de fato a quem mais precisa”, conclui Antônio Silva, diretor de estratégia e acesso da Roche Farma Brasil, em comunicado à imprensa.

*Com supervisão e edição de Larissa Beani

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2022/10/maioria-das-mulheres-desconhece-sinais-de-cancer-de-mama-inflamatorio.html

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