COMO FUNCIONA A VACINA CONTRA CÂNCER DE MAMA EM ESTUDO NOS EUA

  Célula de câncer de mama

Como funciona a vacina contra câncer de mama em estudo nos EUA

Em teste inicial, imunizante gerou forte resposta imune à proteína HER2, produzida em maior escala em tumor mais agressivo do que em outros tipos de cânceres mamários

Por Redação Galileu

10/11/2022 15h28  Atualizado há um ano


Em estudo de fase 1, projetado para avaliar a segurança de uma vacina experimental contra o câncer de mama, pesquisadores da Universidade de Washington (UW), nos Estados Unidos, afirmam ter obtido uma resposta imune forte e segura. Os resultados foram publicados no último dia 3 de novembro na revista JAMA Oncology.


O alvo da vacina é uma proteína chamada receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano, ou Human Epidermal growth factor Receptor-type 2 (HER2, na sigla em inglês). Seu papel é importante no crescimento e desenvolvimento das células epiteliais, incluindo as do tecido mamário, porém essa molécula está também ligada ao câncer de mama HER2+.


Embora a vacina experimental possa eventualmente tratar vários tipos de câncer mamário, o produto em teste visa sobretudo os tumores HER2+, nos quais a proteína em questão aparece em níveis mais elevados do que o normal na membrana das células cancerígenas.

A proteína HER2 é encontrada na superfície de muitas células, mas em até 30% dos cânceres de mama ela é superproduzida em até 100 vezes a quantidade observada em células normais.

Como funciona a vacina

A superprodução de HER2 desencadeia, por outro lado, uma resposta imune útil, chamada imunidade citotóxica (ou morte celular). Isso diminui a probabilidade do câncer voltar após o tratamento, aumentando a sobrevida da paciente.

Para estimular esse tipo de resposta, os pesquisadores criaram a vacina de DNA. Ao contrário das vacinas de proteína, que normalmente contêm parte da molécula ou mesmo ela inteira, o imunizante apresenta somente as instruções genéticas para a proteína-alvo.

Nora Disis, professora de medicina da Universidade de Washington da Divisão de Oncologia Médica — Foto:  UW Medicine/Youtube/Reprodução
Nora Disis, professora de medicina da Universidade de Washington da Divisão de Oncologia Médica — Foto: UW Medicine/Youtube/Reprodução

O material genético, ao ser injetado, é absorvido no local da injeção. As células então começam a produzir a proteína codificada nas instruções de DNA e a apresentam ao sistema imunológico, gerando uma resposta imune.


Testes de fase 1

O estudo selecionou 66 mulheres com câncer de mama metastático, que completaram uma terapia padrão e alcançaram remissão completa ou tinham um tumor remanescente no osso, que tendia a crescer lentamente.

As participantes foram divididas em três grupos, nos quais cada mulher recebeu três injeções. O primeiro grupo tomou uma baixa dose com três aplicações de 10 microgramas (mcg); o segundo recebeu uma dose intermediária (100 mcg) e o terceiro, uma alta dose (500 mcg).

Nora Disis, à esquerda, conversa com colegas em seu laboratório em South Lake Union, Seattle (EUA) — Foto: Randy Carnell
Nora Disis, à esquerda, conversa com colegas em seu laboratório em South Lake Union, Seattle (EUA) — Foto: Randy Carnell

As mulheres também receberam o fator estimulante de colônia de granulócitos-macrófagos (GM-CSF), que promove imunidade citotóxica, na qual células citotóxicas (capazes de destruir outras células) destroem patógenos intracelulares, além de células mutantes e cancerosas.

Os pesquisadores então acompanharam as participantes de três até 13 anos. A resposta imunológica mais forte no tecido mamário foi vista em pacientes que tomaram uma dose média de vacina. A equipe queria garantir que o produto não desencadeasse, ao longo do tempo, uma resposta autoimune contra tecidos saudáveis ​​com a proteína HER2.

Segundo Nora Disis, professora de medicina da Divisão de Oncologia Médica da UW, o imunizante experimental se demonstrou seguro e não desencadeou efeitos colaterais graves. Os incômodos mais comuns em cerca de 50% das pacientes eram parecidos com os das vacinas contra Covid-19: vermelhidão e inchaço no local da injeção, febre, calafrios e sintomas similares aos da gripe.

De modo geral, as voluntárias vacinadas ficaram muito mais saudáveis do que pacientes em estágios parecidos de câncer de mama, embora o estudo não tenha tido o objetivo de testar se a vacina pode retardar ou prevenir a progressão da doença.

Cerca de 50% das pacientes com câncer de mama nos estágios observados tinham uma expectativa de vida de apenas cinco meses. “Já acompanhamos essas mulheres há dez anos e 80% delas ainda estão vivas”, conta a professora.

Disis afirma que, como o estudo não foi um ensaio clínico randomizado, os resultados devem ser considerados preliminares — mas eles já são promissores o suficiente para seguir para um ensaio randomizado e maior. “Tenho grandes esperanças de que estejamos perto de ter uma vacina que possa tratar efetivamente pacientes com câncer de mama”, afirma.


Fonte:https://revistagalileu.globo.com/saude/noticia/2022/11/como-funciona-a-vacina-contra-cancer-de-mama-em-estudo-nos-eua.ghtml

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