Cientistas encontraram evidências da colisão planetária que teria formado a Lua
Principal teoria aponta que satélite foi criado quando um corpo do tamanho de Marte colidiu com a Terra ainda em formação
Por AFP — Rio de Janeiro
02/11/2023 04h00 Atualizado há um dia
Duas gigantescas bolhas de matéria viscosa enterradas a quase 3.000 quilômetros de distância podem ser a prova de que um protoplaneta colidiu com a Terra há 4,5 mil milhões de anos, dando origem à Lua, indicou esta quarta-feira um grupo de cientistas. A principal teoria é que a Lua foi criada quando um corpo do tamanho de Marte colidiu com a Terra ainda em formação.
Após a colisão com o protoplaneta teórico, denominado Theia, uma enorme quantidade de materiais leves, como os silicatos, foi lançada ao espaço e em órbita, sob a influência da gravidade, aglutinaram-se e formaram a Lua. O núcleo mais denso e pesado de Theia, feito de ferro e níquel, afundou-se mais profundamente na Terra, explicando a diferença de densidade entre o planeta e o seu satélite.
Apesar de décadas de esforços, os cientistas não conseguiram encontrar qualquer evidência de Theia. Mas, agora, uma investigação liderada por cientistas dos Estados Unidos e publicada na revista Nature sugere que a prova são as duas bolhas, feitas de material diferente do seu ambiente, enterradas a 2.900 quilômetros de profundidade, cuja existência é conhecida há quatro décadas, mas que ninguém ainda foi foi capaz de explicar.
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Estas bolhas muito achatadas, em forma de lágrima, cada uma do tamanho de um continente, estão localizadas na fronteira entre o manto e o núcleo da Terra, uma sob a África e outra sob o Oceano Pacífico. Os cientistas determinaram que as bolhas são muito mais quentes e densas do que a rocha circundante, mas quase tudo sobre elas permanece um mistério.
Novas pesquisas sugerem que ambos são “relíquias enterradas” de Theia. Qian Yuan, pesquisador de geodinâmica do Instituto de Tecnologia da Califórnia e principal autor do trabalho, disse à AFP que era “muito estranho” que nenhuma evidência do impacto de Theia tivesse sido encontrada.
Eureca!
Foi durante uma aula ministrada por um cientista planetário sobre esse mistério que Yuan teve pela primeira vez uma resposta: "Onde está o impactor? Minha resposta é: está na Terra", disse ele. Desde então, a investigação exigiu que especialistas em áreas muitas vezes distintas, como a astronomia e a geologia, unissem forças.
Yuan lembrou que a teoria sobre a colisão afirma que Theia colidiu com a proto-Terra a mais de 35 mil quilômetros por hora e que os materiais mais densos derreteram devido ao calor do impacto e afundaram “muito profundamente no manto inferior”. Ao longo dos anos, esse material acumulou-se em duas bolhas, localizadas nos antípodas.
O cientista admitiu que testar uma teoria que remonta a tão longe no tempo, e com possíveis evidências tão profundamente enterradas, é incrivelmente difícil, razão pela qual o seu modelo não poderia ser “100 por cento” certo. Mas se for verdade, as implicações seriam imensas.
A colisão de Theia, que se acredita ser o último grande evento de acreção da Terra, mudou significativamente a composição do planeta em apenas 24 horas, disse Yuan.
“A minha sensação é que esta condição inicial é a razão pela qual a Terra é única, porque é diferente de outros planetas rochosos” no sistema solar, disse ele.
As bolhas foram observadas enviando plumas de magma em direção à superfície e também foram associadas à evolução dos supercontinentes, que os cientistas associam à evolução da vida. Theia “deixou algo na Terra e isso desempenhou um papel nos próximos 4,5 bilhões de anos de evolução”, disse Yuan.
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Christian Schroeder, especialista em ciências da Terra e exploração planetária da Universidade de Stirling, na Escócia, disse à AFP que a teoria “se encaixa com várias evidências”. “É uma descoberta muito significativa”, disse Schroeder, que não esteve envolvido na pesquisa.
Ele também destacou que o mistério da formação da Lua não foi resolvido, mas esta pesquisa dá mais peso à teoria do impacto de Theia e ao mesmo tempo fornece “uma explicação credível para estas anomalias na fronteira entre o núcleo e o manto”. Os restos mortais de Theia “podem ser responsáveis por processos importantes na Terra que continuam até hoje”, acrescentou Schroeder.
Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2023/11/02/cientistas-encontraram-evidencias-da-colisao-planetaria-que-teria-formado-a-lua.ghtml
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