VIVER EM MARTE, COMO DESJA ELON MUSK DA SPACE X, PODE CAUSAR DANOS CEREBRAIS E CARDIOLÓGICOS, DIZEM CIENTISTAS

  

 (Foto: Elias Silveira)

(Foto: Elias Silveira)

Viver em Marte, como deseja Elon Musk, pode causar danos cerebrais e cardiológicos, dizem cientistas

Mesmo com um traje espacial, a forte radiação cósmica e a falta de gravidade por anos a fio podem causar danos cerebrais e enfraquecimento de ossos e músculos

Por Camila Pergentino

10/02/2023 15h25  Atualizado há um dia

As viagens de seres humanos a Marte parecem distantes no tempo, mas já estão no horizonte da Nasa e da SpaceX, a empresa de Elon Musk. Contudo, a ida até o Planeta Vermelho, o mais próximo da Terra, pode causar diversos problemas de saúde nos escolhidos para a jornada.

Mesmo com um traje espacial, diversas funções corporais podem ser afetadas pela radiação cósmica e pela ausência de gravidade, que podem causar câncer e enfraquecimento dos ossos e músculos, por exemplo.

A atmosfera de Marte é mais fina que a da Terra — corresponde a cerca de 60% da sua densidade. Isso significa que ela é mais bombardeada pela radiação cósmica e por partículas subatômicas vindas do sol. Uma vez exposto a esse tipo de partícula, o ser humano corre o risco de desenvolver câncer, doenças cardiovasculares, danos cerebrais e decréscimos cognitivos.

"Nós, humanos, não fomos realmente feitos para resistir à radiação espacial", disse Robert Wimmer-Schweingruber, da Universidade de Kiel, na Alemanha, ao Daily Mail. De acordo com um estudo de 2019 liderado pela Agência Espacial Europeia, os astronautas que forem a Marte podem ser bombardeados com 700 vezes a radiação experimentada na Terra.

Antes mesmo de chegar ao destino, os viajantes já estariam expostos a uma considerável quantidade de radiação. A NASA estima que, para uma jornada de seis meses a Marte, a exposição seria o equivalente a 24 tomografias.

As áreas do corpo com maior risco de desenvolver câncer a partir de mutações celulares seriam os olhos, pulmões e intestinos, bem como mamas e útero para as mulheres. A radiação seria 2,6 vezes maior do que a bordo da Estação Espacial Internacional.

Também pode haver efeitos cognitivos da radiação, prejudicando as habilidades de aprendizado e memória. Os agentes da NASA poderiam ficar confusos e incapazes de tomar decisões, mostram outros estudos.

“Explorar Marte exigirá missões de 900 dias ou mais, e uma longa viagem de pelo menos um ano, em que a exposição a energias de íons pesados de raios cósmicos galácticos serão inevitáveis”, disse Francis Cucinotta, físico da Universidade de Nevada, Las Vegas. "Além disso, os efeitos ainda podem não ser totalmente conhecidos.

Outro ponto é a ausência de gravidade durante a viagem de 12 meses e a gravidade menor de Marte - cerca de 38% em relação à da Terra. A microgravidade pode levar ao enfraquecimento dos ossos, facilitando fraturas, e dos músculos - incluindo os do coração.

Como os músculos têm que trabalhar menos devido à ausência de gravidade, os astronautas necessitam de um programa de exercícios forte para não perder massa muscular. O mesmo efeito é visto sobre os ossos, que perdem densidade. Acredita-se também que a microgravidade aumenta a pressão do fluido dentro da cabeça, potencialmente na parte de trás dos olhos, o que pode prejudicar a visão.

Outros efeitos ainda podem surgir de toxinas contidas no ar e no solo de Marte, que podem afetar a tireoide, e da falta de comida - não seria fácil plantar no Planeta Vermelho. Contudo, há sinais de que alguns alimentos poderiam crescer por lá - a alfafa, por exemplo, prosperou em um solo vulcânico que imitava o marciano em um estudo de 2022. Em Marte, a alfafa poderia ser potencialmente cultivada e depois transformada em fertilizante para ajudar a cultivar nabos, rabanetes, alface e muito mais.

Fonte: https://epocanegocios.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2023/02/viver-em-marte-como-deseja-elon-musk-pode-causar-danos-cerebrais-e-cardiologicos-dizem-cientistas.ghtml

Vamos mesmo morar em Marte?

Nas próximas duas décadas os primeiros, astronautas pousarão no planeta vermelho — Ou até um pouco antes disso

Não é de hoje que o homem tem os olhos voltados para Marte.

Sua presença no céu foi notada pela primeira vez por astrônomos do Egito antigo. Tempos depois, o filósofo e físico grego Aristóteles se deu conta de que às vezes o planeta vermelho se escondia atrás do Sol, o que indicava que estava mais longe da Terra do que se imaginava. Quanto mais se conhecia sobre astronomia, mais crescia o fascínio por Marte. As manchas escuras seriam a prova da presença de rios caudalosos, e muitos diziam que o planeta era habitado por seres inteligentes. A euforia se espalhou pela ficção científica e pela cultura pop. Hoje se sabe que nada daquilo era verdade — Marte é um lugar inóspito coberto por rochas vermelhas. Recentemente, no entanto, o planeta voltou a ganhar destaque nas páginas de jornais e de revistas científicas.
 

“Vamos colonizar Marte, e não serão alguns astronautas, mas milhares de pessoas”, disse Stephen Petranek. “Acredito que chegaremos lá em 2027"

Stephen Petranek, autor do livro How We’ll Live on Mars

Pelo menos três sondas encontram-se neste exato momento na órbita de Marte para coletar informações sobre a atmosfera. Quatro anos após seu lançamento, o jipe Curiosity continua enviando informações importantes para a Terra, como a recente descoberta de gás metano saindo de um buraco, o que indicaria a presença de alguma forma de vida. E o mais importante: novas missões espaciais estão sendo desenhadas para levar o homem ao planeta — não só a passeio ou para estudos científicos, mas como sua segunda casa. Há muito se fala de colonizar Marte, é verdade, mas até pouco tempo o assunto parecia papo de ficção científica. Isso mudou: nunca estivemos tão perto de habitar de fato o planeta vermelho. “Vamos colonizar Marte, e não serão apenas alguns astronautas, mas milhares de pessoas”, disse a GALILEU o pesquisador Stephen Petranek, autor do livro How We’ll Live on Mars (“Como viveremos em Marte”, em tradução livre), que chegará às livrarias dos Estados Unidos em julho. “É algo inevitável e possível. Acredito que chegaremos lá em 2027.”

 (Foto: Elias Silveira)

(Foto: Elias Silveira)

Petranek fala com propriedade do assunto. Durante dez anos ele foi editor-chefe da revista norte-americana Discovery, e apresentou sua mais recente pesquisa no TED deste ano, evento que reúne, durante uma semana, especialistas de diferentes áreas para palestrar sobre novidades tecnológicas e científicas em Vancouver, no Canadá. Marte, claro, foi tema recorrente.

“O sistema solar não tem vida infinita; o Sol vai começar a morrer daqui a alguns bilhões de anos, e será o nosso fim”, disse Petranek. “Precisamos chegar a Marte e aprender a viver num ambiente hostil antes de conseguir sair deste sistema.”

A julgar pelas condições naturais, não será tarefa fácil: a atmosfera de Marte é composta por 96% de CO2. Para se ter uma ideia, com apenas 1% de dióxido de carbono no ar o ser humano começa a sentir tontura. Numa quantidade dez vezes maior, causa asfixia. Sem falar que não existe água na forma líquida na superfície. Ou seja, para sobreviver em solo marciano é preciso fazer uma série de adaptações que tornem a vida minimamente possível. Uma das invenções criadas com esse fim é o Moxie, aparelho produzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que transforma dióxido de carbono em oxigênio e que será testado in loco pela Nasa em 2020.

As ideias sobre colonização soariam disparatadas se Petranek não estivesse usando como fonte um dos mais surpreendentes empresários da atualidade, o bilionário Elon Musk. Aos 43 anos, o sul-africano já criou o sistema de pagamentos on-line PayPal; a Tesla, primeira montadora de carros elétricos de linha; e, mais recentemente, a SpaceX. Em dez anos de existência, a empresa espacial transformou-se na primeira companhia privada a mandar uma nave para a Estação Espacial Internacional, façanha realizada em 2012. Dois anos depois, ganhou um contrato bilionário da Nasa para desenvolver uma espaçonave que levará astronautas norte-americanos à estação em 2017. Com sede em uma cidade ao sul de Los Angeles e com o Google entre seus investidores, a SpaceX trabalha com relativo sucesso em foguetes reutilizáveis, algo essencial para diminuir os custos astronômicos da exploração interplanetária, um dos principais fatores que levaram a Nasa a deixar Marte de lado e optar por investimentos na estação e nos ônibus espaciais após a chegada à Lua, em 1969.

 (Foto: Rodrigo Damati)

(Foto: Rodrigo Damati)

PELOS IDOS DE 2035

Já para Musk, a única razão de ser da SpaceX é a chegada do homem a Marte. Ou melhor, homens, mulheres e tudo o mais que tivermos na Terra, como fábricas, lojas, restaurantes. Seu plano é construir uma frota de megafoguetes com capacidade para até 80 pessoas, chamados Mars Colonizer, e lançá-los regularmente com destino ao planeta vermelho a partir de 2030. Musk imagina 80 mil pes­soas viajando com destino a Marte a cada dois anos. “Francamente, fiquei chocado com sua ideia de sistema de foguetes para chegar lá”, disse Petranek. “Será um foguete de dois estágios. O primeiro bem pesado, e depois só um segundo estágio, que entrará em órbita e ficará acoplado à aeronave.”

Musk não é o único nessa jornada. Com um orçamento federal de US$ 17,6 bilhões, a Nasa também fez do planeta sua prioridade para os próximos anos e tem como meta mandar uma tripulação a Marte até 2035, seguindo diretrizes do presidente Barack Obama para que a agência desembarque astronautas por lá nas próximas três décadas. Russos, europeus e chineses também trabalham em projetos com destino a Marte.

A ambição de chegar ao quarto planeta do sistema solar é antiga. Desde os anos 1950, o lendário engenheiro Wernher von Braun (1912--1977), responsável pela criação do foguete que levou a nave Apollo 11 à Lua, descrevia planos de uma missão tripulada a Marte. As primeiras missões não eram tripuladas: na década de 1960, a Rússia investiu no lançamento da Marsnik 1. Fracasso total: a nave não conseguiu sequer atingir a atmosfera terrestre. Quatro anos depois foi a vez de os norte-americanos darem o troco com a sonda Mariner 4, que fez a primeira imagem de Marte e sepultou de vez a ideia de que o planeta era habitado por ETs. De lá para cá foram muitas missões — algumas com mais sucesso que outras (veja na página 48). Apesar da dificuldade, o ex-astronauta Buzz Aldrin, de 85 anos, tem esperança na colonização mar­ciana. “Marte tem muito mais a oferecer [do que a Lua]. É muito mais terrestre, tem estações do ano, uma atmosfera fina e um ciclo de dia e noite muito parecido com o nosso”, disse ele ao jornal The New York Times. “A Lua não é promissora para atividades comerciais.”

ORIGEM DA VIDA

Para chegar a Marte, os astronautas terão de enfrentar uma viagem de oito meses que seria não apenas cansativa, mas perigosa. A Nasa vem fazendo vários estudos nos últimos anos para entender os efeitos do espaço no corpo humano. Em março, o americano Scott Kelly e o russo Mikhail Kornienko embarcaram numa missão inédita para passar pouco menos de um ano na estação espacial. O objetivo? Estudar os efeitos da ausência de gravidade por longos perío­dos no organismo.

Normalmente, cada residente fica cerca de seis meses no laboratório orbital, que tem o tamanho de uma casa de seis quartos, e volta para a Terra com uma série de problemas, como distrofia muscular e deterioração dos ossos (veja mais na página 44). Kelly, de 50 anos, será o primeiro norte-americano a ficar mais tempo, e traz uma curiosa vantagem para os testes realizados pela agência: ele tem um irmão gêmeo idêntico, Mark, que é astronauta aposentado e irá ajudar nas pesquisas da Nasa aqui na Terra, servindo de base de comparação para as dez tarefas a serem realizadas no período. O DNA dos dois será observado de perto para rastrear possíveis mudanças nos genes que controlam o sono, o stress e a atividade celular.

A busca pela colonização de Marte não é unanimidade na comunidade científica. Uma das vozes contrárias é a de Nathalie Cabrol, integrante do time da Nasa que organiza as missões a Marte com veículos exploradores e pesquisadora sênior do Seti Institute, organização dedicada a buscar sinais de vida fora da Terra. “Para mim, caras como o Musk parecem dizer o equivalente a ‘vamos fazer o que for preciso para subir o monte Everest, não importa quantos sherpas tenhamos que contratar para nos carregar até o topo, quantos corpos tenhamos que deixar para trás. Chegaremos lá primeiro, fincaremos nossa bandeira e tiraremos uma selfie’”, disse a astrobióloga num respiro entre palestras durante o TED, no qual se apresentou. “Não há salvação em Marte, que é apenas uma parte do nosso processo de crescimento para treinar a humanidade para tornar-se uma espécie interestelar.”

Nos últimos 13 anos, Nathalie fez diversas viagens ao deserto do Atacama, o mais árido e alto do mundo, no norte do Chile, para escalar vulcões e mergulhar em lagos inóspitos a fim de entender o desenvolvimento da vida em ambientes extremos, similares aos encontrados em Marte, o que acabou revolucionando nosso entendimento do que é de fato um planeta habitável.

Para a cientista, somos a única forma de vida avançada no sistema solar, mas isso não significa que não haja vida microbiana na vizinhança, como em Marte. “Não há vida possível na sua superfície hoje, mas talvez esteja escondida debaixo do solo. E, se alguém falar que procurar por micróbios alienígenas não é cool, lembre-se de que, às vezes, o que começou como um caminho microbiano pode ter terminado numa civilização.” Terra e Marte foram formados na mesma época, algo em torno de 4,5 bilhões de anos atrás. Sinais de vida, como bactérias primitivas formadas por moléculas orgânicas rudimentares, foram encontrados por aqui com até 3 bilhões de anos.

O que aconteceu neste intervalo de 1,5 bilhão de anos é um enigma, e essa peça do quebra-cabeça poderia estar em Marte, que divide patrimônio geológico com a Terra e foi há dezenas de milhões de anos leito de grandes rios, lagos e oceanos, segundo evidências coletadas pelos robôs exploradores da Nasa. “É preciso dar tempo para a ciência provar. No dia em que você colocar humanos em Marte, acabou. A vida estará em Marte. E não falo dos bípedes que somos, e sim das fábricas de micróbios que somos. Micróbios são muito resilientes, eles sempre encontram uma maneira de sobreviver”, completa Nathalie. “Queremos responder a perguntas preciosas. Qual é a nossa origem? Estamos sozinhos no universo? E os micróbios podem nos contar algo importante, que dinheiro nenhum pode comprar.”

 (Foto: Feu)

(Foto: Feu)

NO NOSSO DNA

Em abril, uma nova descoberta do Curiosity animou as equipes que se preparam para realizar a viagem: água líquida abaixo do solo. Até então, acreditava-se que havia apenas geleiras, mas em quantidade suficiente para inundar o planeta. “Não é gelo incorporado ou misturado à terra, é um gelo bem limpo, puro. Foi algo incrível, não esperávamos”, disse a GALILEU a cientista Deborah Bass, geóloga especialista em água polar marciana do Jet Propulsion Laboratory, um centro de pesquisa da Nasa no sul da Califórnia, criadora do Spirit e do Curiosity.

Bass trabalhou na próxima missão da agência para Marte, na qual um novo veículo explorador, ainda sem nome e estimado em US$ 1,9 bilhão, será lançado em 2020, equipado com sete instrumentos de pesquisas científicas, selecionados entre um total de 60 projetos do mundo inteiro. Além do aparelho que produz oxigênio, há um radar norueguês de penetração no solo para estudo geológico e uma ferramenta espanhola com sensores para avaliar temperatura, umidade, ventos e pressão.

O problema é que a corrida espacial não atrai apenas grandes potências ou empresários bem-intencionados. Há espaço também para falcatruas. Um dos casos mais polêmicos é o da Mars One, uma organização holandesa que planejava financiar a viagem a Marte de quatro terráqueos, com passagem só de ida, como parte de um reality show no melhor estilo BBB. Eles afirmam que mais de 200 mil pessoas se candidataram, e a organização chegou a 100 nomes (incluindo uma professora brasileira de 51 anos).

As primeiras viagens tripuladas aconteceriam em 2026. Em março deste ano, no entanto, os planos do empresário Bas Lansdorp começaram a ruir. A Endemol, produtora do Big Brother, recusou-se a fazer um acordo com a Mars One, e a SpaceX afirmou não ter nenhum contrato com a firma, que havia anunciado em seus planos o uso das aeronaves de Musk. Para piorar, o prestigioso MIT resolveu debruçar-se sobre o projeto e chegou a uma conclusão assustadora: os quatro astronautas só conseguiriam viver 68 dias em Marte, antes de morrer de fome ou por falta de oxigênio no ar.

Para completar, os próprios escolhidos começaram a sentir cheiro de fraude e a fazer denúncias de que o projeto não passava de um esquema de pirâmide. Lansdorp, fundador de uma companhia de energia eólica, negou as denúncias e segue firme atrás de financiamento.

Seja lá como ou quando for que cheguemos a Marte, a aventura interplanetária faz parte da nossa história de desbravadores de novas terras. “A exploração está em nosso DNA. Há 2 milhões de anos, os humanos evo­luíram na África e foram se espalhando pelo planeta, indo além de seus horizontes. Está dentro de nós”, disse Petranek. Que os novos astronautas tenham o mesmo sucesso que esses africanos que, um dia, saíram em busca de uma nova casa.

 (Foto: Revista Galileu)

(Foto: Revista Galileu)


Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/06/vamos-mesmo-morar-em-marte.html

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