O QUE ESTUDOS DIZEM SOBRE A TRANSMISSÃO DO NOVO CORONAVÍRUS PELO AR


O que estudos dizem sobre transmissão do novo coronavírus pelo ar (Foto: Flickr Zoi Koraki)

O que estudos dizem sobre transmissão do novo coronavírus pelo ar (Foto: Flickr Zoi Koraki)

O que estudos dizem sobre a transmissão do novo coronavírus pelo ar

Cientistas ainda não sabem ao certo se o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, pode ser transmitido pelo ar, mas defendem medidas preventivas mesmo assim


Os cientistas já sabem que o novo coronavírus, causador da pandemia de Covid-19, pode resistir por dias em algumas superfícies. Também é sabido que as gotículas de saliva que saem da nossa boca quando falamos são formas potentes de transmissão do Sars-CoV-2 — e por isso recomenda-se o distanciamento de ao menos 2 metros entre pessoas.
Entretanto, o que ainda não se sabe é se esse microrganismo pode ser transmitido pelo ar. O debate começou quando cientistas norte-americanos publicaram um artigo no The New England Journal of Medicine, no início de março. Segundo esses especialistas, o novo coronavírus pode flutuar em gotículas de aerossol por até 3 horas e permanecer infeccioso.
Para quem não sabe, aerossol é um conjunto de partículas bem pequenas que ficam suspensas e se comportam como um líquido (como as nuvens, por exemplo). Quando falamos do aerossol que pode transmitir microrganismos, estamos nos referindo a partículas com 5 micrômetros de diâmetro — tamanho que é bem pequeno, se comparado às gotículas que saem da boca quando falamos ou espirramos.
Essa diferença de tamanho nas gotículas pode parecer pouco importante, mas é justamente isso que determina se elas continuarão flutuando por bastante tempo no ar ou não. No caso das gotas maiores, a força da gravidade as faz cair no chão rapidamente em um curto espaço — entre 1 e 2 metros (daí as recomendações das autoridades). Enquanto isso, as partículas menores podem flutuar no ar por horas.
Novas pesquisas

Um estudo publicado no último dia 26 de março e conduzido por especialistas da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, corrobora a hipótese de que o novo coronavírus se espalha pelo ar. Na pesquisa, os especialistas analisaram a presença de material genético do Sars-CoV-2 em salas de isolamento de pacientes em tratamento para Covid-19.
O resultado? O RNA viral não só estava presente em superfícies de difícil acesso, mas também em regiões a mais de 2 metros dos pacientes. Segundo os especialistas, embora não tenham encontrado partículas virais infecciosas, isso sugere que ao menos o material genético do vírus pode se espalhar pelo ar.
Como se não bastasse, um estudo conduzido pela Universidade de Wuhan, na China, revelou que a limpeza dos locais infectados pelo novo coronavírus também representa risco. Segundo a pesquisa, publicada no início de março no BioRxiv, durante a higienização de superfícies contaminadase o RNA viral volta a ser suspenso no ar — o que pode levar à infecção de pessoas saudáveis.
"[Estou] aliviado ao ver que a aerossolização é aceita", escreveu Kimberly Prather, especialista em aerossóis da Universidade da Califórnia, em entrevista à Science. "Esse caminho adicional no ar ajuda a explicar por que [o vírus] está se espalhando tão rápido."
O Coronavirus está perto de infectar 100 mil pessoas em todo o mundo  (Foto: Creative Commons)
Imagem do novo coronavírus feita com microscópio (Foto: Creative Commons)
Contrapontos

Nem todos os especialistas concordam que os aerossóis são uma rota provável de transmissão da Covid-19. Em uma declaração realizada no último 27 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o contágio pelo ar "pode ​​ser possível em circunstâncias e ambientes específicos que geram aerossóis", como quando pacientes com quadros graves são intubados.
A OMS também destacou que uma análise que considerou 75 mil casos do novo coronavírus na China não revelou evidências de transmissão aérea. De acordo com os especialistas da entidade, "a detecção de RNA em amostras ambientais não é indicativa da existência de vírus viáveis ​​que possam ser transmissíveis".
Jamie Lloyd-Smith, pesquisador de doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, acredita que mais estudos são necessários para provar o quão transmissível o vírus pode ser pelo ar. Segundo ele, ainda não se sabe se as pessoas com Covid-19 produzem aerossóis carregados de vírus o suficiente para constituir risco.
Além disso, outra incógnita importante para solucionar essa questão é a dose infecciosa: o número de partículas de Sars-CoV-2 necessárias para causar uma infecção. "Se você está respirando vírus em aerossol, não sabemos qual é a dose infecciosa que oferece uma chance significativa de causar infecção", afirmou Lloyd-Smith, em entrevista à Nature.
O especialista Julian Tang, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, concorda que mais estudos são necessários, mas pondera que cada expiração do doente pode não liberar muitos vírus, mas "se você estiver ao lado [de alguém infectado], compartilhando o mesmo espaço aéreo com por 45 minutos, você inalará vírus suficientes para causar infecção", afirmou à Nature.
Foto mostra o vírus Sars-CoV-2 (pontinhos) na superfície de uma célula humana (estrutura maior) (Foto: NIAID)
Foto mostra o vírus Sars-CoV-2 (pontinhos) na superfície de uma célula humana (estrutura maior) (Foto: NIAID)
Mas há um problema para a realização desses estudos: os pesquisadores não podem simplesmente expor pessoas saudáveis a situações que possivelmente resultarão em sua contaminação pelo novo coronavírus. Lidia Morawska, da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, relatou à Nature que são necessários mais dados, "mas devemos reconhecer a dificuldade de coletar essas informações".
Entretanto, Morawska acredita que é preciso tratar os pacientes considerando a possibilidade da transmissão da Covid-19 pelo ar. Isso porque, de acordo com ela, "na mente dos cientistas que trabalham nisso, não há dúvida de que o vírus se espalha no ar. Isso é óbvio", observou.
Prevenção

Enquanto ainda não sabemos com certeza se o Sars-CoV-2 pode ser transmitido pelo ar, os especialistas recomendam que as pessoas tomem medidas preventivas para o caso dos aerossóis também serem contagiosos. 
Dessa forma, recomenda-se seguir as medidas de distanciamento social e de higienização das mãos sempre que possível. Além disso, os médicos recomendam deixar as janelas abertas e evitar "reciclar o ar", com o uso de ar-condicionado, por exemplo.
Para quem for sair de casa, Alguns médicos também indicam a utilização de máscaras descartáveis como uma medida profilática eficiente. Nem todos os especialistas concordam nesse ponto, mas todos afirmam que aqueles com suspeita de Covid-19 devem recorrer ao utensílio.


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