FILME "A TEORIA DE TUDO" - UMA REFLEXÃO PRECISA SOBRE O GENIAL ASTROFÍSICO STEPHEN HAWKING,SUA VIDA PESSOAL E CARREIRA, COMO O MAIS BRILHANTE CIENTISTA DA ATUALIDADE

A Teoria de Tudo (2015)

Não é bem assim: "A Teoria de Tudo" e as lendas sobre Stephen Hawking

Baseado na biografia de Stephen Hawking, o filme mostra como o jovem astrofísico (Eddie Redmayne) fez descobertas importantes sobre o tempo, além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge Jane Wide (Felicity Jones) e a descoberta de uma doença motora degenerativa quando tinha apenas 21 anos. Divulgação
"A Teoria de Tudo", filme baseado na vida do físico britânico Stephen Hawking, que estreou no Brasil dia 29-012015, é um retrato relativamente preciso da carreira e da vida pessoal do cientista mais famoso do mundo na atualidade. Claro, é preciso encarar o longa-metragem com aquele viés típico do estilo "baseado em personagens reais", já assumindo que certos fatos serão reordenados e dramatizados, enquanto outros serão suprimidos. Mas, ainda assim, o filme, baseado em livro da primeira esposa do físico, é bem fiel à realidade.
Mas uma coisa que o filme não faz é ajudar a separar o que há de lenda e o que é fato na prolífica carreira científica de Hawking. Confira agora alguns dos mitos criados em torno da figura extraordinária do físico – às vezes com a ajuda dele, às vezes sem.
1. Hawking é o maior gênio de todos os tempos?

Yoav Lemmer/AFP
Stephen Hawking

Não há um único cientista que concorde com isso. Hawking é um físico que está muito acima da média, mas é difícil colocá-lo no mesmo patamar de gigantes como Einstein e Newton. Contudo, a imagem de uma mente brilhante presa a um corpo paralisado pela esclerose lateral amiotrófica, doença degenerativa que costuma ser fatal, é poderosa demais para não ser abraçada pelo público. Uma das coisas que ajudam a alimentá-la é o fato de Hawking ter se especializado em cosmologia, o estudo da origem e da evolução do Universo –um tema pelo qual muita gente se interessa, mas que pouca gente entende. Também ajuda a propagar a lenda o fato de Hawking ter ocupado durante três décadas (de 1979 a 2009) a cátedra de Professor Lucasiano da Universidade de Cambridge, mesma posição ocupada por 33 anos por Isaac Newton (1642-1726), esse sim um sério candidato a maior cientista de todos os tempos.
2. Hawking provou como se deu a origem do Universo?

Biswarup Ganguly/Wikimedia (CC BY 3.0)
Roger Penrose

Essa é uma das lendas que é reforçada de forma sutil pelo filme "A Teoria de Tudo", mostrando as ambições do início da carreira do físico e mencionando a criação de um modelo cosmológico que sugere que a origem do Universo poderia ter começado com uma singularidade, como a que existe nos buracos negros. Pode ser a solução correta? Pode. Mas pode não ser também. Esse é apenas um modelo matemático, e não há como provar que ele é melhor que hipóteses alternativas acerca da origem do cosmos. Aliás, hoje, muitos físicos já não se animam tanto com a ideia de que o Universo nasceu numa singularidade. Em vez disso, eles trabalham com a noção de que pode ter havido um outro Universo que precedeu o nosso e deu origem ao cosmos que vemos hoje. Um dos defensores dessa ideia é Roger Penrose, matemático britânico que chegou a trabalhar com Hawking nos modelos originais de singularidade.
3. Hawking demonstrou que Deus não existe?

Thinkstock
Representação do Big Bang

Nos anos 1960, enquanto trabalhava em seu modelo da origem do Universo a partir de uma singularidade, o físico chegou a sugerir que o próprio tempo nascia com o Big Bang, em tese eliminando a necessidade de algo que precedesse a existência do próprio Universo e pudesse agir como seu criador. Caso isso estivesse certo, não seria preciso perguntar o que houve antes do Big Bang, porque nem o tempo existia antes disso. Mas é importante ressaltar que o modelo de Hawking, a essa altura, é considerado ultrapassado, e a discussão sobre o que pode ter havido antes da atual instância do Universo é uma das mais ativas no campo da cosmologia.
4. Hawking descobriu que buracos negros não existem?

Reprodução
Concepção artística de um buraco negro

O físico causou reações bombásticas ao declarar, em janeiro de 2014, que os misteriosos objetos conhecidos como buracos negros poderiam nem existir. Ele apresentou a ideia num trabalho muito sumário e sem sequer justificar suas conclusões por meio de cálculos matemáticos. Ainda assim, o artigo causou enorme repercussão. Afinal de contas, Hawking sempre foi um dos maiores especialistas em buracos negros e chegou a aplicar seus estudos desses objetos -- produzidos quando uma estrela de alta massa entra em colapso e fica tão comprimida que nem a luz consegue escapar de sua gravidade – até mesmo à própria origem do Universo. Parecia estranho – e audaz – Hawking renegar a existência de um objeto que estudou a vida inteira. Mas, sem cálculos para sustentar a hipótese, ela caiu no vazio. Não foi a primeira vez que aconteceu. Em 2004, o britânico havia feito algo semelhante, dizendo ter resolvido um grande mistério dos buracos negros conhecido como "paradoxo da informação". Também não passou de um alarme falso.
5. Hawking promoveu a unificação da mecânica quântica com a teoria da relatividade geral?

Reprodução
Cena do filme "A Teoria de Tudo"

Essa é possivelmente a maior das buscas da física moderna – como reunir os dois principais pilares da nossa compreensão do cosmos em um único arcabouço teórico. Mas a famosa "teoria de tudo" (que dá nome ao filme de Hawking) ainda não existe e não há sinal de que vá aparecer num futuro próximo. O que o físico britânico de fato conseguiu fazer foi promover uma unificação muito limitada de efeitos relativísticos e quânticos para demonstrar que buracos negros não são totalmente negros – eles emitem doses módicas de radiação e com isso perdem energia. Com o passar do tempo, eles evaporam. Desaparecem. A previsão teórica da chamada radiação Hawking é o maior trunfo do cientista em sua carreira e é apresentada no filme. Hoje, a imensa maioria dos físicos está convencida de que os buracos negros existem (ao contrário do que sugeriu Hawking recentemente) e de fato emitem radiação pelo mecanismo proposto pelo famoso físico.
* Salvador Nogueira é jornalista de ciência, sócio-fundador da Associação Aeroespacial Brasileira, autor de oito livros e blogueiro da Folha de S.Paulo.

Trailer do filme "A Teoria de Tudo"




"A Teoria de Tudo" enfatiza ateísmo do cientista Stephen Hawking


Aos 73 anos recém-completados, Stephen Hawking é um fenômeno. Misto de cientista sério com celebridade, autor de bestsellers como "Uma Breve História do Tempo", uma mente brilhante aprisionada em um corpo travado pelos efeitos da esclerose lateral amiotrófica.
Já retratado em documentários, o autor inglês está no centro de uma cinebiografia, "A Teoria de Tudo", que adapta as memórias de sua primeira mulher, Jane Wilde Hawking, e coloca em primeiro plano o homem, antes do intelectual, e o longo relacionamento dos dois. 
O filme dirigido por James Marsh (vencedor do Oscar em 2008 pelo documentário "O Equilibrista") está colecionando prêmios para seu protagonista, o ator inglês Eddie Redmayne (de "Sete Dias com Marilyn"), que acaba de tornar-se o favorito ao Oscar deste ano depois de ter conquistado o troféu de melhor intérprete masculino no Sindicato dos Atores dos EUA e o Globo de Ouro.
"A Teoria de Tudo" concorre a outros quatro Oscars: melhor filme, atriz (Felicity Jones), roteiro adaptado e trilha sonora original.
Fosse uma produção de Hollywood, era possível esperar mais piedade e redenção deste retrato de Hawking, um notório ateu e que, na vida pessoal, mergulhou bem mais nos conflitos e dilemas de qualquer outra pessoa do que se poderia supor.
Evidentemente, o casamento entre Stephen e Jane, que se conheceram na universidade nos anos 1960, tem tudo para fugir ao convencional, a partir de sua própria concretização. Afinal, quando eles se casam, ele já recebeu o terrível diagnóstico de sua doença e uma virtual condenação à morte, uma vez que os médicos previram na época que ele não sobreviveria mais de dois anos. Isto há 50 anos.
Mesmo afetado dramaticamente pelas progressivas perdas motoras de Stephen - que não o impedem de ter uma vida amorosa, três filhos e até brincar com eles -, o relacionamento se mantém e é o principal foco da história. Uma opção lógica, já que aqui se assume o ponto de vista de Jane.
Se recebeu críticas por essa predominância do aspecto pessoal sobre o científico, é certo que o filme não perde de vista o notável esforço de Hawking em explorar teorias ambiciosas, em torno da origem do universo e do início do tempo. Embora se dê uma ênfase um pouco exagerada à sua falta de fé religiosa, terreno de disputa com a mulher.
Nem por isso a história embarca no moralismo, retratando com admirável franqueza o modo como o casal enfrenta as fissuras do casamento quando entram em cena outras pessoas - como o professor de canto Jonathan (Charlie Cox) e a nova enfermeira, Elaine Mason (Maxine Peake).
Expor estas particularidades do cientista nunca resvala para a vulgaridade. Antes, humaniza sua figura, singularmente bem-humorada, injetando mais realismo neste retrato, certamente parcial.

Stephen Hawking: Inteligência artificial pode destruir a humanidade

  • O físico Stephen Hawking sobre a inteligência artificial: "fim da raça humana"O físico Stephen Hawking sobre a inteligência artificial: "fim da raça humana"
Stephen Hawking, um dos mais proeminentes cientistas do mundo, disse à BBC que os esforços para criar máquinas pensantes é uma ameaça à existência humana.

"O desenvolvimento da inteligência artificial total poderia significar o fim da raça humana", afirmou.

Hawking fez a advertência ao responder uma pergunta sobre os avanços na tecnologia que ele próprio usa para se comunicar, a qual envolve uma forma básica de inteligência artificial.

O físico britânico, que sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença degenerativa, está usando um novo sistema desenvolvido pela empresa Intel para se comunicar.

Especialistas da empresa britânica Swiftkey também participaram da criação do sistema. Sua tecnologia, já empregada como um aplicativo para teclados de smartphones, "aprende" a forma como Hawking pensa e sugere palavras que ele pode querer usar em seguida.

Hawking diz que as formas primitivas de inteligência artificial desenvolvidas até agora têm se mostrado muito úteis, mas ele teme eventuais consequências de se criar máquinas que sejam equivalentes ou superiores aos humanos.

"(Essas máquinas) avançariam por conta própria e se reprojetariam em ritmo sempre crescente", afirmou. "Os humanos, limitados pela evolução biológica lenta, não conseguiriam competir e seriam desbancados."

'No comando'

Nem todos os cientistas, porém, compartilham da visão negativa de Hawking sobre a inteligência artificial.

"Acredito que continuaremos no comando da tecnologia por um período razoável de tempo, e o potencial dela de resolver muitos dos problemas globais será concretizado", opinou o especialista em inteligência artificial Rollo Carpenter, criador do Cleverbot, cujo software aprende a imitar conversas humanas com crescente eficácia.

Carpenter disse que ainda estamos longe de ter o conhecimento de computação ou de algoritmos necessário para alcançar a inteligência artificial plena, mas acredita que isso acontecerá nas próximas décadas.

"Não podemos saber exatamente o que acontecerá se uma máquina superar nossa inteligência, então não sabemos se ela nos ajudará para sempre ou se nos jogará para escanteio e nos destruirá", disse Carpenter, que apesar disso vê o cenário como otimismo por acreditar que a inteligência artificial será uma força positiva.

Ao mesmo tempo, Hawking não está sozinho em seu temor.

No curto prazo, há preocupação quanto à eliminação de milhões de postos de trabalho por conta de máquinas capazes de realizar tarefas humanas; mas líderes de empresas de alta tecnologia, como Elon Musk, da fabricante de foguetes espaciais Space X, acreditam que, a longo prazo, a inteligência artificial se torne "nossa maior ameaça existencial".

Voz

Na entrevista à BBC, Hawking também alertou para os perigos da internet, citando o argumento usado por centros de inteligência britânicos de que a rede estaria se tornando "um centro de comando para terroristas".

Mas o cientista se disse entusiasta de todas as tecnologias de comunicação e espera conseguir escrever com mais rapidez usando o seu novo sistema.

Um aspecto tecnológico que não mudou no sistema é a voz robotizada que externaliza os pensamentos de Hawking. Mas o cientista diz que não faz questão de ter uma voz que soe natural.

"(A voz robótica) se tornou minha marca registrada, e não a trocaria por uma mais natural com sotaque britânico", disse. "Ouvi dizer que crianças que precisam de vozes computadorizadas querem uma igual à minha."


Robôs esquisitos cumprem funções humanas

Cabelo chanel, busto e olhos de gatinho fazem de Aila o primeiro exemplar feminino da robótica apresentado na CeBIT, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo realizada anualmente em Hannover, na Alemanha. Projetada pela equipe do Centro de Pesquisas Alemão de Inteligência Artificial, Aila não difere internamente dos modelos masculinos do mercado, mas seus braços e suas mãos articulados simulam com perfeição os movimentos humanos, o que facilita operar maquinários (acima), apertar botões e ligar interruptores Fabrizio Bensch/Reuters

Featurette de "A Teoria de Tudo", cinebiografia de Stephen Hawking, um dos mais conceituados físicos da atualidade. Com direção de James Marsh, a produção tem como base a autobiografia de Jane Wilde, com quem Hawking foi casado por mais de 20 anos e de quem se separou em 1991. Apesar do diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica, doença que futuramente o deixaria paralisado e sem a habilidade de falar -, Hawking continuou seus estudos, recebeu diversos prêmios e escreveu sua obra mais conhecida, o best seller "Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros". O ator Eddie Redmayne, de "Sete Dias com Marilyn" e "Os Miseráveis", interpreta o físico, enquanto Felicity Jones vive Jane. Estreia em 29 de janeiro de 2015. 

Cinebio de Hawking segue fórmula inglesa de filmes "quadrados" para o Oscar


A Teoria de Tudo (2015)

O ator Eddie Redmayne estudou a personalidade e os trejeitos de Stephen Hawking para incorporar o físico no cinema. Divulgação
Quando a união de subgêneros se transforma em tendência, o resultado pode ser: a) uma explosão nas bilheterias, dominadas por filmes de super-herói ou voltados para o público juvenil; b) uma saraivada de indicações ao Oscar; e c) a aposta em narrativas dramáticas mais convencionais, evitando-se riscos no argumento, na adaptação, nas filmagens.
A resposta correta para a temporada de premiações do cinema americano parece ser todas as opções acima.De James Marsh, a cinebiografia de Stephen Hawking a partir do livro homônimo escrito por sua ex-mulher --e mãe dos três filhos do físico-- Jane Wilde. Uma semana depois é a vez de "O Jogo da Imitação", de Morten Tyldum, em torno da trágica história do matemático Alan Turing, responsável direto por uma das maiores vitórias dos Aliados na Segunda Guerra Mundial e condenado à prisão por ser homossexual na Grã-Bretanha dos anos 1950.
Ambos britânicos, os filmes, juntos, receberam 13 indicações a o Oscar (cinco para "Teoria", oito para "O Jogo"), e seguem fórmula parecida: a cinebiografia sem grandes polêmicas, mesclada com o que os ingleses batizaram de "filme de prestígio" –e os críticos acusam de falta de ousadia–, cujo exemplo de maior sucesso recente foi "O Discurso do Rei", prêmio de melhor filme, diretor (Tom Hopper), roteiro original e ator (Colin Firth), em 2011.
"A maior preocupação que tivemos foi a de fazer jus à história do Stephen e da Jane", diz, em entrevista, Eddie Redmayne, indicado ao Oscar de melhor ator por sua rendição do autor de "Uma Breve História do Tempo". "Primeiro queríamos que eles ficassem felizes, que a família toda aprovasse nossas interpretações. Quando eles viram o filme e, com toda a generosidade, disseram que gostaram do que fizemos, o maior prêmio já estava conquistado. Beeeem depois vem toda esta história de Oscar, que, obviamente, infla meu ego. E, quem sabe, muito mais interessante, acabe animando as pessoas a saírem de casa para ver o filme", conclui.
Um projeto do roteirista e escritor neo-zelandês Anthony McCarten, o filme é baseado na segunda edição da biografia escrita por Wilde, uma especialista em literatura formada na Universidade de Oxford, em Cambridge, onde conheceu Hawking, seu primeiro marido. A edição original, mais cáustica, foi lançada em 1998, três anos depois do divórcio do casal. O cientista casou-se anos depois com sua enfermeira, de quem se divorciou em 2005. Jane vive com o segundo marido, Jonathan, que tem papel de destaque no filme, já que entra no convívio familiar dos Hawking quando os três filhos do casal ainda são crianças.

"Houve um momento em que os Hawking tiveram de tomar decisões bem pouco ortodoxas no que se refere à vida privada deles. A vida pública do Stephen é bem conhecida, mas ainda há gente, por exemplo, que pensa que ele sempre viveu em uma cadeira de rodas", conta McCarten. "E não conheço outra história em que A vive com B e com permissão de A, B começa a se relacionar com C e, com a permissão de B, A começa a se relacionar com D. É uma visão de 'família moderna' à frente de seu tempo, e que claramente não foi fácil de se estabelecer, mas de fato aconteceu".
Depois de ler o livro repetidas vezes, McCarten bateu na porta de Jane e iniciou um processo de convencimento que só terminou quando a benção de toda a família foi dada à adaptação da história dos Hawking para o cinema. A esta altura, o professor já havia se separado de sua segunda mulher, sua ex-enfermeira Elaine, que aparece brevemente no filme. Jane, seu segundo marido, o músico Jonathan Jones e Stephen estiveram próximos da produção, e um dos momentos mais marcantes das filmagens, para todos os envolvidos, foi a presença do último no set quando Marsh conduzia dezenas de figurantes na cena do baile em Cambridge, uma das mais românticas do filme.

Jornalistas e críticos, no entanto, reclamam da ausência de detalhes sobre a infidelidade no casamento dos Hawking, presente na biografia; da dificuldade do relacionamento de Jane com a família do marido, pintada no livro com as cores da arrogância intelectual e culminando na suspeita da sogra de que o terceiro filho do casal era de Jonathan; da transformação romântica do mesmo Jonathan que, ao contrário do filme, jamais passou um tempo afastado dos Hawking para que Jane refletisse sobre seu casamento e o papel de um novo amor em sua vida em família; das escapadelas de Stephen com Elaine, nada consensuais no que se refere a Jane.

"A história é delicada, o tema é delicado, eu só tive a certeza de que o filme sairia do papel há dois anos, quando Jane finalmente deu o sinal verde para começarmos a filmar. Eu a convenci de que queria contar a verdade, mas que, no fim, 'A Teoria de Tudo' seria uma celebração da vida dos Hawking. Fui eu quem a convenci a fazer uma segunda edição da autobiografia, cuja edição original estava esgotada", diz McCarten. "Ela então decidiu fazer uma pequena revisão e retirou certos trechos, certas passagens mais emocionais que haviam sido duramente criticadas pela imprensa britânica. Mas ela não mudou nada do roteiro, a não ser uma música dos Rolling Stones que aparecia no filme em um momento histórico anterior ao de o single ter sido lançado. E só".


Jogo da Imitação (2015)

"Jogo da Imitação", do diretor Morten Tyldum, é baseado na história real do lendário criptoanalista inglês Alan Turing (Benedict Cumberbatch), considerado o pai da computação moderna. Narra a tensa corrida contra o tempo de Turing e sua brilhante equipe no projeto Ultra, para decifrar os códigos de guerra nazistas e contribuir para o final do conflito. O elenco conta com Keira Knightley, Matthew Goode e Mark Strong. Estreia em 5 de fevereiro Divulgação/Diamond Films
O Jogo da Imitação
"O Jogo da Imitação", o outro inglês de destaque no Oscar 2015, que estreia no dia 5 de fevereiro de 2015, também foi baseado em um livro, neste caso escrito pelo matemático Andrew Hodges, e gira em torno do absurdo das leis anti-gays da Inglaterra do século passado, em oposição aos atos heroicos do homem que desbaratou o principal modelo criptográfico usado pelos nazistas para comunicação durante a Segunda Grande Guerra.
O filme, estrelado por Benedict Cumberbatch e Keira Knightley, foi duramente criticado por não mostrar, em momento algum, qualquer envolvimento romântico homossexual de seu personagem central, um homem cuja vivência de sua sexualidade, afinal de contas, causou sua morte. Turing se matou depois de concordar em iniciar um processo de castração química –opção oferecida pela Justiça no lugar da prisão–, que afetou sua saúde e intelecto de forma violentíssima.

O filme carregou na ficção, no entanto, no amor platônico de Turing por um colega de internato, cuja morte repentina o faz batizar seu principal experimento durante o esforço de guerra com o nome do amigo. Na realidade, ele sabia do estado de saúde de seu parceiro e jamais deu a seu invento, crucial para a resolução do filme, o nome de Christopher. Além disso, o matemático contou desde o início para a colega Joan Clarke (Knightley) que preferia homens a mulheres, não existindo a subtrama retratada no filme, gerada pelo desconhecimento desse fato.

Decisões de se optar pela elasticidade ficcional em relação à realidade, e até mesmo às principais fontes de pesquisa, não são novidade em Hollywood e outro filme baseado em fatos reais na disputa para o Oscar 2015, "Selma", também tem sofrido o ataque de especialistas no movimento pelos direitos dos negros dos EUA, especialmente no que diz respeito à relação de Martin Luther King Jr. com o presidente Lyndon Johnson.

Mas, como aponta McCarten, se estas pequenas liberdades podem de fato ser cruciais para a transposição da obra literária para a tela grande, no caso das, vá lá, "cinebiografias de prestígio", há o perigo de se reduzir histórias filmadas em torno de personalidades da dimensão de um Hawking ou Turing a uma fórmula palatável para o cinemão americano, um caçador de Oscar à inglesa, como bem apontou a editora de cinema do jornal inglês "The Guardian", Catherine Shoard. Nas próximas duas semanas, o público brasileiro poderá decidir se "A Teoria de Tudo" e "O Jogo da Imitação" se encaixam na categoria de "filmes de prestígio" ou de biografias "chapa-branca".

Personagens com deficiências podem dar Oscar a Julianne Moore e Redmayne


  • Eddie Redmayne e Julianne Moore em "A Teoria de Tudo" e "Para Sempre Alice"Eddie Redmayne e Julianne Moore em "A Teoria de Tudo" e "Para Sempre Alice"
Julianne Moore e Eddie Redmayne partem com grandes chances de levar a estatueta do Oscar com seus papéis impactantes, respectivamente, em "Para Sempre Alice" e "A Teoria de Tudo".

Moore é a favorita absoluta na categoria de melhor atriz graças a uma personagem que sofre os devastadores efeitos do Alzheimer, enquanto Redmayne pode conquistar o prêmio por sua interpretação de Stephen Hawking, o célebre astrofísico britânico que vive em uma cadeira de rodas e sem falar por causa da esclerose lateral amiotrófica.

Embora Michael Keaton, em "Birdman ou (a Inesperada Virtude da Ignorância)", lidere as apostas nessa categoria, Redmayne tem a seu favor o fato de interpretar uma personalidade real, outro grande fator que tradicionalmente é mais bem cotado na Academia, como demonstraram as vitórias recentes de Matthew McConaughey ("Clube de Compras Dallas", 2013), Daniel Day-Lewis ("Lincoln", 2012) e Colin Firth ("O Discurso do Rei", 2010).

O Oscar já premiou personagens memoráveis com deficiência ou doenças mentais como o do próprio Day-Lewis em "Meu Pé Esquerdo" (1989), quando interpretou o pintor e escritor irlandês Christy Brown, que sofria de paralisia cerebral, e a de Holly Hunter em "O Piano" (1993), quando interpretou uma pianista muda que se casou com um fazendeiro da Nova Zelândia em meados do século XIX.

Al Pacino finalmente saiu vitorioso após sete indicações ao dar vida ao coronel cego Frank Slade em "Perfume de Mulher" (1992), e Dustin Hoffman conquistou sua segunda estatueta dourada interpretando um autista em "Rain Man" (1988).

Tom Hanks foi nomeado duas vezes consecutivas ao interpretar um advogado soropositivo em "Filadélfia" (1994) e o nem tão inteligente, mas carismático "Forrest Gump" (1995), que por coincidência esteve presente em vários momentos decisivos da sociedade americana.

Outros casos recentes são os de Jamie Foxx, que transpôs com perfeição para as telas Ray Charles em "Ray" (2004), e o próprio McConaughey no ano passado, consagrado pelo papel de Ron Woodroof, um "cowboy" drogado que luta para conseguir de qualquer maneira medicamentos que prolonguem a vida de quem, como ele, contraiu o vírus da Aids.

No passado estão outros exemplos notáveis como os de Marlee Matlin, por "Filhos do Silêncio" (1986); Jon Voight, por "Amargo Regresso" (1978); Patty Duke, por "O Milagre de Anne Sullivan" (1962); Joanne Woodward, por "As 3 Máscaras de Eva " (1957); ou Harold Russell, por "Os Melhores Anos de Nossa Vida" (1946).

Os casos de Matlin e Russell são especialmente particulares.

Matlin, uma jovem surda de 21 anos, ganhou o Oscar de melhor atriz por interpretar uma estudante com a mesma deficiência que inicia uma relação sentimental com um fonoaudiólogo.

Russell, um veterano de guerra, fez história ao se transformar no primeiro ator não profissional e a primeira pessoa amputada - ele perdeu as mãos enquanto estava no exército - a levar o Oscar.

Além disso, Voight levou a estatueta pelo papel de um veterano do Vietnã paraplégico, vítima de uma lesão na medula, que encontra o amor de uma mulher (Jane Fonda) cujo marido ainda estava lutando na guerra.


Fonte:http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/02/nao-e-bem-assim-a-teoria-de-tudo-e-as-lendas-sobre-stephen-hawking.htm


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