PSICOLOGIA HOMEM x MÁQUINA


As máquinas podem ser amigas?


Sherry Turkle estuda a psicologia da nossa interação com as máquinas inteligentes e os robôs sociáveis e adverte que essas relações não podem substituir as humanas.
Recorda o dia em que ficou ciumenta por um robô. Estava a estudar o aspeto subjetivo da relação dos seres humanos com os computadores no Instituto Tecnológico do Massachusetts (MIT), onde dá aulas e se dedica à investigação sobre o impacto da tecnologia na sociedade. No laboratório de robótica, conheceu Cog, uma criatura metálica com cabeça e braços, que estava programada para se virar para o interlocutor, como se compreendesse o que lhe estavam a dizer. Sherry Turkle apercebeu-se de que queria que Cog interagisse com ela, e não com a colega que estava presente. A máquina, de aparência vagamente humanoide, tocou em algo muito profundo dentro de si. “Embora soubesse que não havia uma pessoa dentro do robô, queria que ele me ligasse. Queria convencer-me de que era um ser vivo, um amigo em quem podia confiar. Isso deixou-me horrorizada!”, afirma a socióloga e psicóloga clínica, formada em Harvard.


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“Há vinte e cinco anos, Marvin Minsky, um dos fundadores da inteligência artificial, procurava criar uma máquina tão bela que valesse a pena dotá-la de alma. Hoje, projetamos os nossos atributos humanos nesses artefactos. Perante os que sabem manter contacto visual, seguir os nossos movimentos, recordar o nosso nome, ter expressão e produzir sons, estamos perdidos. Reagimos aos robôs sociáveis como se eles tivessem um Eu, como se realmente se preocupassem connosco”, afirma.

Esta dependência emocional constitui uma tendência inquietante para a especialista: “Recentemente, numa conferência sobre os avanços em robótica, uma jovem estudante disse-me que trocaria o seu namorado por um humanoide que tivesse um comportamento afetuoso. Acreditava que, se o robô lhe pudesse dar isso, poderia criar a ilusão de ter realmente alguém a seu lado. Não estava a brincar.” Não é a única a pensar assim. “Imaginamos robôs que façam de enfermeiras, babysitters ou professores, alegando que não há pessoal suficiente para exercer essas profissões. Isso não me convence. Claro que há pessoas dispostas a fazer esses trabalhos, desde que o salário seja decente. Trata-se de um reflexo desta era, a que costumo chamar ‘momento robótico’. Não por fabricarmos robôs que mereçam a nossa companhia, mas por estarmos preparados para a sua.”
Até agora, a relação com os engenhos tem sido de otimismo tecnológico, afirma Sherry Turkle, pois salvam vidas: numa sala de operações, no espaço, numa zona de catástrofe... A cavalaria robótica resolve situações que seriam perigosas para um ser humano. “Contudo, agora, também queremos que o robô nos dê conversa, consolo e companhia. Nos meus estudos, comprovei que há pessoas que, com base numa simples consulta à Siri [o assistente digital do iPhone, dotado de voz humana, que fornece informações sobre o tempo ou a localização de um restaurante], começam a fantasiar que se trata de uma verdadeira amiga, até melhor do que as de carne e osso, pois está sempre disponível e nunca se aborrece.”


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SUPER 186 - Outubro 2013




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